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Construção modular induz produtividade e sustentabilidade

Ao transferir as atividades do canteiro para fábricas, a construção modular propõe uma disrupção na forma de construir, agregando previsibilidade e eficiência

Publicado em: 23/08/2021Atualizado em: 21/09/2021

Texto: Juliana Nakamura

Construção modular
A construção modular pode ser utilizada para viabilizar diferentes tipologias de projeto (Foto: Divulgação/ArcelorMittal)

Alternativa para aumentar a produtividade e reduzir custos e desperdícios na construção civil, a construção modular vem sendo objeto de estudos, ações e investimentos no Brasil e no mundo. Um ecossistema de inovação tem se formado em torno desse tema, atraindo a atenção de agentes com interesses diversos, desde bancos e fundos de investimentos, a grandes empresas de tecnologia e empresas tradicionais.

O que explica esse movimento são os ganhos que podem ser obtidos com essa forma de construir, entre eles: qualidade (decorrente do trabalho em ambiente controlado), maior previsibilidade, redução de riscos e, principalmente, compactação de prazos de até 50%.

Em uma instalação industrial, otimizamos a produção sem sofrer o impacto de variáveis, como questões climáticas e falta de mão de obra, sobre o cronograma e os custos
Paulo Salvador

“Em uma instalação industrial, otimizamos a produção sem sofrer o impacto de variáveis, como questões climáticas e falta de mão de obra, sobre o cronograma e os custos” comenta Paulo Salvador, CEO da Modularis. “Outro atributo importante é a sustentabilidade, visto que nesse tipo de construção praticamente não há desperdício de matérias-primas e de insumos”, complementa.

Há, ainda, benefícios sociais relacionados aos trabalhadores. “O operário deixa de atuar no canteiro de obras e passa a trabalhar em uma fábrica, com mais segurança e qualificação, entregando produtos mais prontos e menos artesanais”, pontua a professora Ercilia Hirota, coordenadora da Aliança Construção Modular do Centro de Inovação para a Construção Sustentável da USP (CICS/USP).

O QUE É A CONSTRUÇÃO MODULAR?

A construção modular off-site refere-se à construção industrializada, baseada em componentes produzidos fora do canteiro, que pode ser volumétrica (composta por módulos 3D) ou “painelizada” (painéis de fechamento, piso e cobertura, por exemplo). Há, também, a construção modular híbrida, que combina tanto módulos 3D, quanto painéis. Projetados de modo a tirar proveito da modularidade, os componentes prontos são transportados ao canteiro para montagem, de forma similar a um “lego”.

“A construção modular pode estar relacionada a quatro sistemas construtivos diferentes: o aço estrutural, o concreto armado pré-fabricado, os sistemas híbridos, que combinam aço e concreto, e a madeira engenheirada”, explica Antonio Paulo Pereira Filho, gerente de inovação e desenvolvimento de produtos Construção Civil da ArcelorMittal Longos.

Construção modular
Os componentes prontos são transportados ao canteiro para montagem (Foto: Divulgação/ArcelorMittal)

Ele conta que, entre 2020 e 2021, a ArcelorMittal registrou acréscimo de quase três vezes em seus desenvolvimentos e vendas direcionadas para o sistema construtivo modular. “É um termômetro de como esse mercado é real”, destaca o executivo.

A construção modular pode ser utilizada para viabilizar diferentes tipologias de projeto, desde edifícios multifamiliares e habitações horizontais, passando por instalações hoteleiras, comerciais e industriais. Segundo Hirota, “a construção modular não vem para substituir por completo a construção tradicional, mas para oferecer uma alternativa para aqueles que buscam uma edificação mais rápida, flexível e sustentável”.

GARGALOS E DESAFIOS

Embora seja um segmento em franca expansão, ainda há uma série de desafios a serem superados para o maior desenvolvimento da construção modular. “Há desde a exigência de investimentos para a instalação de um ambiente fabril, à necessidade de desmitificar essa metodologia, que ainda é vista por muitos como excessivamente padronizada e de baixo valor arquitetônico”, comenta a professora Ercília Hirota.

Outros entraves a serem vencidos para o avanço da industrialização são a falta de isonomia tributária para sistemas construtivos off-site e a carência de modelos de financiamento que incentivem obras mais velozes. Há, ainda, a necessidade de rever como são feitas as análises de viabilidade dos projetos. “Muitas vezes nos deparamos com uma disparidade de custos globais grande entre a construção modular e a convencional, o que acaba inviabilizando a solução industrializada”, revela Pereira, reforçando que muito dessa perda de competitividade poderia ser solucionada com projetos mais otimizados.

Segundo ele, em um trabalho realizado em parceria com a Modularis, foi possível obter reduções de custo da ordem de 20% a 25%, com adaptações realizadas a partir do projeto original. “A economia pode ser resultado da inserção de produtos com propriedade mecânica superior, do uso de peças com alguma geometria específica ou mesmo da utilização de produtos com maior taxa de serviço agregado”, exemplificou.

Construção modular
No trabalho realizado em parceria com a Modularis foi possível obter reduções de custo da ordem de 20% a 25% (Foto: Divulgação/ArcelorMittal)

ALIANÇA CONSTRUÇÃO MODULAR

Para que a construção modular avance, é necessária a colaboração de toda a cadeia, dos fornecedores de materiais aos empreendedores, passando por construtores e projetistas
Antonio Paulo Pereira Filho

“Para que a construção modular avance, é necessária a colaboração de toda a cadeia, dos fornecedores de materiais aos empreendedores, passando por construtores e projetistas”, diz Pereira. Na visão dele, é impossível fazer trabalhos estruturados de desenvolvimento tecnológico sem o envolvimento de toda a cadeia em busca de um mesmo propósito.

Um esforço, nesse sentido, foi a criação do grupo de trabalho “Aliança Construção Modular”, ligado ao Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS), da Universidade de São Paulo (USP). O CICS é um ecossistema de empresas e academia dedicado a promover inovação, sustentabilidade e produtividade na construção civil.

O objetivo da aliança, que até o momento congrega mais de 40 empresas de diferentes setores da construção, é estabelecer cooperação multidisciplinar e desenvolver projetos consorciados de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com apoio da USP, da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Esse é um movimento importante, lembrando que a construção modular pode ajudar a cadeia da construção a ‘atacar’ fragilidades, como a baixa produtividade, e responder a demandas, como o elevado déficit habitacional e a falta de infraestrutura no Brasil”, conclui Pereira.

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Colaboração técnica

 
Paulo Salvador — CEO da Modularis Offsite Building.
 
Ercilia Hitomi Hirota — Engenheira civil com mestrado e doutorado na área de Gerenciamento da Construção. Professora associada do Centro de Tecnologia e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, divide a coordenação da Aliança Construção Modular do Centro de Inovação para a Construção Sustentável da USP (CICS/USP) com Diana Csillag, Beda Barkokebas e Vanderley John.
 
Antonio Paulo Pereira Filho — Gerente de inovação e desenvolvimento de produtos Construção Civil da ArcelorMittal Longos.