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Conheça 12 práticas sustentáveis: do canteiro de obras ao acabamento

São muitas as soluções que tornam a obra e o edifício mais amigável ao meio ambiente. A seguir, listamos as mais relevantes e mostramos como a construção civil as tem absorvido

Publicado em: 12/04/2021Atualizado em: 16/11/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Práticas sustentáveis no canteiro de obras
As práticas trazem ganhos para a obra e para o meio ambiente (Foto: Stock-Asso/Shutterstock)

As boas práticas de canteiro e a adoção de sistemas construtivos e materiais que garantem menor impacto ambiental durante a construção e ao longo da vida útil das edificações são temas correntes há, pelo menos, 15 anos no Brasil. Alguns já são objetos de políticas públicas e foram absorvidos pela construção civil, outros não. Considerando a extensão do país e o grande número de pequenos e médios construtores, é sempre atual relembrar essas providências e instrumentos. O engenheiro Guilherme Loos, sócio-diretor da Inovatech Engenharia, selecionou as práticas mais relevantes e explica suas vantagens.

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No canteiro de obras

Máquinas híbridas – O mercado da construção civil ainda tem grande dificuldade de empregar máquinas com menor impacto ambiental, ou seja, com menor emissão de poluentes, principalmente de gases de efeito estufa. Guilherme Loos recomenda aos construtores aderirem às retroescavadeiras, carregadeiras e tratores, entre outras da linha amarela, movidas a combustíveis híbridos, ou com biocombustível. “Hoje, 90% dessas máquinas utilizam o diesel – combustível fóssil – e muitas operam com regulagem precária”, diz, contando que realiza ensaios denominados Escala de Ringelmann nas máquinas de canteiros de clientes, para detectar a escala da fumaça da máquina. Quanto mais escura, maior a emissão de gases poluentes, decorrente da falta de regulagem do sistema.

Construção industrializada – A construção de galpões logísticos é o segmento que melhor e mais amplamente aproveita os sistemas construtivos industrializados. Mas a grande maioria das construtoras da área imobiliária entende essa solução como um custo a mais. “No comparativo de custos do sistema industrializado com o tradicional, feito in loco, elas não consideram alguns fatores como a produtividade e o desperdício. É o caso, por exemplo, do custo para o descarte correto e obrigatório dos resíduos”, destaca. Os elementos pré-fabricados resultam em uma obra mais limpa, rápida e com menos desperdício. Porém, a decisão pelo método construtivo industrializado exige da construtora investir em planejamento e desenvolvimento do projeto. Trata-se de mudança de mentalidade do setor, que ainda não aconteceu. “A redução de prazo é importante ganho a ser considerado”, comenta Loos.

O ideal é usar a brita reciclada, fechando o ciclo de vida dos materiais usados na própria obra
Guilherme Loos

Resíduos, destinação, reciclagem e reutilização – A Resolução Conama 307/2002, que estabelece diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos gerados pela construção civil, classifica os resíduos em classes A, B, C e D. A grande parte é classe A, que são os resíduos inertes e volumosos – entulho constituído por blocos, concreto, restos de argamassa e telhas cerâmicas. “Apesar de seu baixo impacto ambiental, demandam grandes áreas de aterros nos municípios. É um problema de fácil solução, pois podem ser reciclados, transformando-se em brita reutilizada na obra para fins não estruturais”, afirma. Há, no entanto, dois gargalos para a disseminação de seu uso. À restrição cultural soma-se a inexistência de norma técnica que trate dos agregados reciclados aplicados à construção. Com isso, não existem ensaios prescritos, o que leva as construtoras a adquirirem agregados diretamente de pedreiras, gerando grande impacto ambiental. “O ideal é usar a brita reciclada, fechando o ciclo de vida dos materiais usados na própria obra”, sugere. Entre os resíduos da classe B – madeira, metal, vidro, plástico, papel –, a segregação dos materiais está funcionando bem nos canteiros, especialmente visando a venda dos metais para a reciclagem.

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Especificação de itens com menor impacto

Telhados com isolamento térmico – O emprego de materiais isolantes no telhado é importante para reduzir a quantidade de calor que penetra no edifício. As soluções vão desde superfícies reflexivas e pintura em cores claras até o revestimento do telhado com manta de alumínio, para aumentar a refletância da radiação solar. “Providências como essas e outras colaboram com o conforto térmico nos ambientes, minimizando o gasto com energia elétrica consumida pelo sistema de ar-condicionado – um dos grandes vilões na conta de luz, principalmente dos prédios comerciais”, observa Loos.

Telhados verdes – Eles se destacam como solução arquitetônica interessante para reduzir a entrada de calor nos ambientes. É preciso, no entanto, atentar para dois aspectos: projetar o telhado verde com acesso fácil para manutenção e optar por espécies que demandam baixa manutenção e irrigação, para não onerar o condomínio. “No espaço da cobertura, os moradores podem criar e usufruir de hortas orgânicas”, ressalta Loos, destacando a experiência de sucesso do Shopping Eldorado que, além de destinar as hortaliças que crescem no telhado aos restaurantes da praça de alimentação, mantem sistema de compostagem do lixo orgânico para adubar a horta. O modelo já funciona em diversos edifícios de São Paulo.

Arejadores – Esse dispositivo para torneiras é solução praticamente consolidada em grande parte das construções. Os fabricantes, por sua vez, investiram no desenvolvimento de novas linhas de produtos. “Basta ver que, há algum tempo, não existiam arejadores compatíveis com vários modelos de torneiras. Portanto, esse é um mercado que evoluiu”, diz, lembrando que agora estão disponíveis arejadores que restringem a vazão a 1,8 litros/minuto, com consumo baixo de água, até os de 8 litros/minuto. De acordo com o perfil dos compradores dos imóveis, as construtoras escolhem o modelo de arejadores, desde os muito econômicos, que implicam a perda de algum conforto no uso, até os de maior consumo. Além disso, as tecnologias do produto avançaram a ponto de arejadores funcionarem como um misturador de água e ar. O resultado é o menor consumo água, porém com a sensação de mais conforto se comparado com produtos que não dispõem dessa solução. Essa tecnologia também está presente nos arejadores de chuveiros. “Já o redutor de vazão reduz a água que chega ao chuveiro e, consequentemente, o conforto do banho”, compara.

Descargas com acionamento duplo – O produto já se tornou padrão no mercado imobiliário. “Exceto nos canteiros de obras, onde ainda se usa a bacia suspensa que, a cada acionamento, consome mais de 10 litros de água”, constata o engenheiro. Melhoria ainda não disseminada nas novas construções é o reuso de águas pluviais e cinzas em vasos sanitários, que não exige água potável. Ele lembra que a mesma água usada para lavar as mãos pode ser facilmente tratada e reutilizada no vaso. “Esse deve ser o próximo avanço, nas obras que virão”, acredita.

 Coletor solar para aquecimento de água – Alvo de políticas públicas em inúmeros municípios do país, nos últimos anos essa tecnologia passou a ser obrigatória para empreendimentos residenciais com unidades de maior área, portanto, de médio alto e alto padrão.

Placas fotovoltaicas – Incentivos fiscais concedidos pelo governo reduziram o custo desse sistema de geração de energia e ampliaram seu uso principalmente em residências unifamiliares. “Diante da crise econômica pela qual o país passa há alguns anos ainda se vê poucos empreendimentos adotando esse tipo de solução. Mas, esperamos que no próximo ciclo de crescimento os painéis fotovoltaicos passem a ter escala”, prevê. A novidade é que algumas grandes empresas começam a oferecer as placas embutidas no telhado. Isto elimina a necessidade de instalação de estrutura para suportar os painéis acima da cobertura da edificação. “Essa sobrecarga muitas vezes exige reforço das fundações, o que aumenta o custo da instalação”, comenta Loos.

Pisos com materiais recicláveis – O engenheiro aponta o piso vinílico como material reciclável e, ainda melhor, é o fato de que os grandes fabricantes já produzem a partir de polímeros reciclados. “Além disso, esse revestimento tem qualidade, desempenho, durabilidade, facilidade de limpeza e estética interessantes. Ao mesmo tempo, é um material com menor impacto ambiental”, destaca. Ele aproveita para lembrar a importância da escolha de pisos permeáveis para calçadas, estacionamento e térreo dos edifícios. É o caso do concregrama e do concreto permeável, que permitem a drenagem da água de chuva, evitando enchentes – grave problema nas cidades.

Sempre recomendamos o uso da LED com eficiência máxima, ou seja, com etiquetagem nível ‘A’ do Inmetro/Procel
Guilherme Loos

Lâmpadas LED – Já se tornaram mandatórias nos edifícios e residências do país. Na medida em que conquistaram o mercado consumidor, seu preço caiu e tomou o lugar das fluorescentes e das incandescentes – estas últimas tiveram sua comercialização proibida. As LEDs têm eficiência energética e luminosa muito superior às demais. “Sempre recomendamos o uso da LED com eficiência máxima, ou seja, com etiquetagem nível ‘A’ do Inmetro/Procel”, diz.

Tintas com baixo VOCs – Os Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs) não estão mais presentes em boa parte das tintas disponíveis no mercado. São aquelas à base de água, inclusive nas tintas epóxi usadas em áreas molhadas, como banheiro, vestiário, academias com piscinas. “Esses ambientes, quando pintados com tinta à base de água com baixo índice de VOCs, exigiam a repintura com maior frequência. O desenvolvimento, nos últimos cinco anos, das resinas com essa propriedade foi a solução para esses ambientes mais críticos à umidade”, complementa Loos.

Colaboração técnica

Guilherme Bertuzzi Loos – Formado em Engenharia Ambiental e Urbana pela Universidade Federal do ABC, Santo André (2016), com curso de LEED AP, GBC Brasil (2019) e de Gestão do tempo pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini (2015). É sócio na Inovatech Engenharia.