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Como utilizar pré-moldados de concreto em edifícios altos?

Sobretudo em países europeus, elementos pré-moldados são usados para a construção de prédios com até 50 pavimentos. Entenda

Publicado em: 07/04/2020

Texto: Juliana Nakamura

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Bella Sky Conwell Hotel, em Copenhague, na Dinamarca (foto: divulgação/ramboll)

Em países onde a industrialização da construção está em estágio mais avançado, especialmente na Europa e na Ásia, os pré-moldados de concreto vêm sendo bastante aproveitados na construção de edifícios altos. Na maior parte das vezes, o esquema estrutural escolhido combina núcleo rígido de concreto moldado in loco, vigas protendidas, lajes alveolares e pilares circulares confeccionados com concreto de alta resistência. Alguns exemplos desse tipo de construção são a Dexia Tower, na Bélgica, com 130 m de altura, a Breaker Tower, no Bahrein, com 165 m, e o Urban Dock Park, no Japão, com 180 m.

Igualmente emblemático é o Bella Sky Conwell Hotel, em Copenhague, na Dinamarca. Com 76 m de altura e arquitetura marcante concebida pelos arquitetos do escritório 3xN, o empreendimento é composto por duas torres de 23 andares inclinadas em 15 graus em direções opostas, ligadas por uma ponte. Ambas as estruturas foram erguidas integralmente com estruturas e elementos pré-fabricados de concreto, incluindo os painéis de fachada.

CONSTRUÇÃO RÁPIDA

O interesse no uso de elementos pré-moldados na construção de edifícios altos se explica pela possibilidade de se ter uma obra mais limpa e rápida, com menos desperdício de materiais e maior controle da qualidade e previsibilidade de resultados. Com o uso de vigas e lajes pré-fabricadas há, também, a possibilidade de obter vãos maiores e construções mais esbeltas. “O uso desses elementos pode agregar redução significativa do peso e altura, quando comparado a estruturas convencionais, chegando a permitir a construção de um pavimento a mais a cada 35 andares. Outro ganho diz respeito à pré-fixação dos preços de compra dos insumos. Nesses casos, os contratos são fechados a preços fixos, sem os aditivos normalmente presentes nos contratos das obras convencionais”, compara a engenheira Íria Lícia Oliva Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto (Abcic).

A evolução da tecnologia está permitindo erguer prédios altos com grande velocidade
George Jones

“A evolução da tecnologia está permitindo erguer prédios altos com grande velocidade”, disse o engenheiro britânico George Jones, em palestra realizada durante o Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural (Enece), no final de 2019. Coordenador do grupo de trabalho de edifícios altos pré-fabricados da International Federation for Structural Concrete (FIB), ele afirma que, atualmente, os pré-moldados podem viabilizar a construção de torres com até 300 metros de altura.

DESAFIOS NACIONAIS

Nesses casos, os pilares são contínuos, com resistência mecânica que pode chegar a 50 MPa, com ligações, semirrígidas, resistentes à flexão
Íria Lícia Oliva Doniak

No Brasil, onde a industrialização ainda é incipiente, a adesão a esses elementos é mais modesta. Por aqui, pré-fabricados de concreto costumam ser utilizados em estruturas mistas, combinados com elementos de concreto moldados in loco ou de aço. Já quando se fala em uma estrutura integralmente pré-moldada, é possível encontrar edifícios erguidos no país com até dez pavimentos. “Nesses casos, os pilares são contínuos, com resistência mecânica que pode chegar a 50 MPa, com ligações, semirrígidas, resistentes à flexão”, conta Doniak.

Baixa mecanização do canteiro de obras e dificuldades logísticas estão entre os principais obstáculos para a disseminação dessa solução construtiva no país. Peças pré-fabricadas com mais de 20 m de comprimento, por exemplo, podem enfrentar dificuldades no transporte entre a fábrica e a obra, exigindo a previsão de emendas nas peças, em especial pilares.

Há, ainda, uma questão financeira. O sistema industrializado tem uma carga de impostos superior à aplicada sobre as atividades realizadas nos canteiros de obras do modo convencional. Isso faz com que o industrializado saia perdendo em uma comparação de preços direta. Também tem impacto na adesão aos pré-fabricados o sistema de financiamento de obras brasileiro, que incentiva cronogramas de execução das obras mais longos.

“Mas há que se fazer uma efetiva análise de viabilidade e não apenas comparar custos diretamente. Quando analisamos o custo-benefício para empreendimentos que envolvem iniciativa privada, os ganhos proporcionados pela industrialização viabilizam o seu emprego em edifícios altos”, conclui Íria Doniak.

Colaboração técnica

Íria Lícia Oliva Doniak – Engenheira civil formada pela PUC/Paraná, é presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic).
George Jones – Engenheiro civil, é coordenador do grupo de trabalho de edifícios altos pré-fabricados da International Federation for Structural Concrete (FIB).