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Como controlar a dosagem de água no traço de concreto? Entenda

Relação água/cimento influencia o desempenho da mistura e é fundamental para evitar patologias estruturais e aumentar a durabilidade das estruturas

Publicado em: 05/06/2019Atualizado em: 01/08/2024

Texto: Juliana Nakamura

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O excesso de água pode ocasionar a perda de resistência mecânica final do concreto (foto: bubutu/shutterstock)

A água é um elemento fundamental para o desempenho do concreto. Quando adicionada em quantidade menor do que a necessária, a trabalhabilidade é comprometida, dificultando os processos de lançamento e adensamento e gerando falhas de concretagem. Por outro lado, quando acrescida em excesso, põe em risco a resistência mecânica do produto final. Vale lembrar que a resistência do concreto depende diretamente do fator água/cimento (a/c). Quanto menor for este fator, maior tende a ser a resistência.

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Os problemas causados por falta de controle na dosagem de água são imensos. “Segregação, exsudação, patologias superficiais, fissuras, além de baixa resistência mecânica são muito comuns quando se adiciona volume suplementar de água nos concretos”, diz o engenheiro Flávio Renato Pereira Capuruço, sócio-diretor da Beton Engenharia e Consultoria. Ele lembra que, além dessas manifestações patológicas, concretos produzidos com água em demasia tendem a ser mais porosos e permeáveis, prejudicando a durabilidade das estruturas.

CUIDADOS BÁSICOS

O controle da adição de água usada na produção do concreto começa na elaboração do traço, que deve levar em conta o local e o tipo de aplicação, requisitos de projeto, qualidade do cimento e agregados disponíveis, entre outros fatores. “Em um país de proporções continentais como o Brasil, cada construção apresenta particularidades que necessitam ser consideradas. Por isso, é recomendado abolir as tabelas de traço geral”, recomenda o professor Marcos Valin Júnior, do Instituto Federal de Mato Grosso.

Em um país de proporções continentais como o Brasil, cada construção apresenta particularidades que necessitam ser consideradas. Por isso, é recomendado abolir as tabelas de traço geral
Marcos Valin Júnior


Outra prática importante é o uso exclusivo de água potável e com baixos teores de cloretos. Uma referência técnica importante é a ABNT NBR 15.900 – Água para amassamento do concreto.

TECNOLOGIAS PARA CONTROLE DO VOLUME DE ÁGUA

No canteiro, é imprescindível que haja rigor na medição do volume de água adicionada à betoneira. As quantidades devem ser exatamente as previstas no traço. Além disso, é fundamental o uso de medidas padronizadas. Em obras de pequeno porte, nas quais o concreto é produzido manualmente, um balde ou proveta graduada podem ser utilizados. Obras de maior porte ou complexidade, no entanto, exigem equipamentos mais precisos.

Um exemplo nesse sentido são as sondas equipadas com sensores, que podem ser fixadas no fundo ou nas pás dos misturadores. “Com esse tipo de tecnologia é possível realizar o monitoramento da adição de água em tempo real, o que contribui para melhor controle da qualidade do produto final”, diz Marcos Valin.

Além da medição da água adicionada, há outros fatores que interferem no teor do líquido presente na mistura do concreto. Entre eles, destaca-se o teor de umidade dos agregados miúdos (areia ou pó de pedra por exemplo) e dos graúdos (brita e seixo por exemplo), que também precisa ser controlado.

CURA DO CONCRETO

O processo de cura após a concretagem também interfere no desempenho final do concreto e mantém estreita relação com os teores de água. “A cura é importante para promover uma completa hidratação do cimento. Se não tivermos um procedimento adequado, uma parte da água evaporará, impedindo que essa hidratação aconteça como se espera”, explica o engenheiro da Beton.

Ele conta que descuidos nessa etapa comprometem as características mecânicas do concreto, em especial a resistência à compressão e o módulo de elasticidade. Além disso, podem induzir fissuras por retrações, aumentando a porosidade e a permeabilidade do concreto e reduzindo sua durabilidade.

Múltiplos aspectos devem ser levados em consideração no planejamento e execução da cura do concreto. Os principais são o tipo de cimento utilizado na dosagem, as condições climáticas, como temperatura e umidade relativa do ar, a incidência e velocidade dos ventos, o início e o fim de pega do concreto. “O mais importante é dispor de um excelente controle tecnológico, no qual todas essas variáveis possam ser analisadas, desde o traço do concreto até sua aplicação”, conclui Flávio Capuruço.

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Colaboração técnica

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Flávio Renato Pereira Capuruço – Engenheiro civil, é especialista nas áreas de projetos estruturais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Tecnologia dos Materiais pela ABCP. É sócio-diretor da Beton Engenharia e Consultoria.
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Marcos Valin Júnior  – Tecnólogo em controle de obras e mestre em física ambiental. É professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT).