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Como construir em solos argilosos? Conheça boas práticas

Você sabia que nem todo solo argiloso é ruim para construção? Saiba mais sobre esse tipo de terreno tão comum no Brasil e entenda como aproveitá-lo da melhor forma possível

Publicado em: 04/09/2019Atualizado em: 28/03/2023

Texto: Juliana Nakamura

solos argilosos
Os solos argilosos podem apresentar características estáveis ou suscetíveis a deformações (foto: Sephirot17/shutterstock)

Comuns em diferentes regiões do Brasil, os solos argilosos se caracterizam por apresentar grãos pequenos e alta coesão. Também conhecidos como solos finos, eles têm consistência variável em função da quantidade de água presente entre os grãos. Por isso mesmo, podem apresentar características antagônicas, ora estáveis, ora suscetíveis a deformações.

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QUANDO UM SOLO ARGILOSO É RUIM?

“A resistência das argilas depende do arranjo dos seus grãos e do índice de vazios em que se encontra”, explica a engenheira Gisleine Coelho de Campos, pesquisadora do IPT. Segundo ela, outros fatores, como a presença de matéria orgânica e o histórico de tensões a que foi submetido, impactam o comportamento dos solos argilosos. Portanto, não há como definir características e comportamentos padronizados.

A resistência das argilas depende do arranjo dos seus grãos e do índice de vazios em que se encontra
Gisleine Coelho de Campos


“Os desafios técnicos que envolvem a construção em solos argilosos variam de acordo com seu estado, sua composição e suas características físico-químicas”, acrescenta o engenheiro Ilan Gotlieb, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG).

Ele conta que um exemplo de preocupação com os solos argilosos é a presença de espessas camadas de argilas moles, suscetíveis a grandes deformações, que podem gerar recalques na superfície. “Por outro lado, camadas de solos argilosos relativamente resistentes permitem a execução de escavações com taludes bastante estáveis”, diz Gotlieb, ressaltando a necessidade de se acabar com o estigma de que solos argilosos são sinônimo de problemas em obras.

ENSAIOS NECESSÁRIOS

Em todos os tipos de solo, inclusive nos argilosos, uma boa campanha de sondagens à percussão pode identificar as camadas existentes, com respectivas resistências. Se porventura se identificar a presença de espessas camadas de argilas moles, dependendo do tipo de obra a ser executada, pode ser necessária complementação das sondagens, com ensaios que possam identificar melhor as características de resistência e permeabilidade do solo. “Nesses casos, é possível utilizar, por exemplo, ensaios vane test para determinar, no campo, a coesão de argilas moles. Também pode-se utilizar ensaios de cone CPT com medidas de permeabilidade”, explica Ilan Gotlieb.

ARGILAS MOLES

“De posse dos dados da investigação, o projetista pode avaliar o comportamento do solo, especialmente sua capacidade de suporte e deformabilidade, e indicar as soluções técnicas possíveis”, explica Campos.

Atenção especial deverá ser dada na fase de projeto quando os ensaios detectarem baixa consistência. Em algumas situações, solos argilosos inconsistentes podem demandar um tratamento prévio do local, seja para acelerar os recalques, ou para melhorar a capacidade de suporte do terreno.

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ESCOLHA DE FUNDAÇÕES

De maneira geral, as fundações apoiadas em solos argilosos resistentes são bastante eficientes. O problema é quando o solo apresenta espessas camadas de argilas moles, que podem impor dificuldades executivas significativas
Ilan Gotlieb

“De maneira geral, as fundações apoiadas em solos argilosos resistentes são bastante eficientes. O problema é quando o solo apresenta espessas camadas de argilas moles, que podem impor dificuldades executivas significativas”, destaca Gotlieb.

Nesses casos mais críticos, é muito comum a utilização de fundações profundas, capazes de avançar até uma camada de solo mais rígida para suportar as cargas. São consideradas fundações profundas aquelas cujo comprimento da estaca predomina sobre sua seção transversal, ou quando a camada de suporte está a uma profundidade maior que dois metros.

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Gisleine Campos lembra, contudo, que a escolha da fundação para uma determinada construção depende não somente do tipo de solo, mas também das características do projeto a ser erguido. “Não há como indicar um único tipo de fundação. São várias as soluções possíveis, quando há o devido dimensionamento e execução apropriada”, conclui a engenheira.

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Colaboração técnica

engenheiro Ilan Gotlieb
Ilan Gotlieb – Engenheiro civil com mestrado em Engenharia Geotécnica pela Cornell University. É sócio-diretor da MG&A Consultores de Solos, conselheiro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS) e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG)
engenheira Gisleine Campos
Gisleine Coelho de Campos – Engenheira civil com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo na área de geotecnia. É pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).