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Como comprar pisos drenantes

O caminho ideal para a especificação e compra dos pisos permeáveis é seguir as determinações normativas e a execução correta da sub-base. Confira dicas!

Publicado em: 27/03/2023Atualizado em: 11/04/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Shutterstock)

Piso drenante ou, mais corretamente, pavimento permeável, é uma importante solução para aumentar a permeabilidade das cidades. “Quando bem projetado, construído e mantido, o pavimento permeável colabora para evitar as enchentes, devolvendo água aos lençóis freáticos”, explica o engenheiro Cláudio Oliveira Silva, gerente de Inovação e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Quando bem projetado, construído e mantido, o pavimento permeável colabora para evitar as enchentes, devolvendo água aos lençóis freáticos
Cláudio Oliveira Silva

Para que a especificação e a compra sejam bem-sucedidas, é fundamental considerar os requisitos das normas técnicas e, também, as etapas de execução da sub-base.

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Tipos de pavimentos permeáveis

Os pavimentos permeáveis podem ser executados com diferentes camadas de revestimento, mas todas devem cumprir duas funções básicas: suportar cargas mecânicas e funcionar como reservatório provisório de água de chuva.

“Cada tipo de revestimento irá proporcionar diferentes suportes mecânicos e conforto de rolamento. Entretanto, todos devem ter a mesma capacidade de percolação de água”, explica Oliveira, que elenca os tipos de pavimentos permeáveis:

  • pavimento permeável com peças de concreto de juntas alargadas;
  • pavimento permeável com peças de concreto com vazados;
  • pavimento permeável com peças de concreto permeável;
  • pavimento permeável com placas de concreto permeável;
  • pavimento permeável com concreto permeável moldado no local.

Quais são os requisitos da norma técnica?

O engenheiro fala que a execução adequada depende da correta especificação não só da camada de revestimento, mas de toda a estrutura permeável do pavimento. Oliveira ressalta que é necessário desenvolver os projetos de dimensionamento mecânico e hidráulico do pavimento, bem como verificar a camada de revestimentos de acordo com os seguintes requisitos:

  • Coeficiente de permeabilidade da camada: > 10-3 m/s ou 60 litros/min;
  • Resistência mecânica (depende de cada solução adotada, conforme detalhado na Tabela 8 da norma ABNT NBR 16416);
  • Espessura mínima: 
  •    Tráfego de pedestre: 60 mm ou tráfego leve: 80 mm para revestimentos com peças ou placas de concreto;
  • Tráfego de pedestre: 60 mm ou tráfego leve: 100 mm para revestimento de concreto moldado no local. 

As camadas de assentamento (peças ou placas) e camadas de base ou sub-base devem observar os requisitos:

  • Distribuição de granulometria uniforme conforme recomendação da ABNT NBR 16416;
  • Partículas finas (0,075 mm): 2%
  • Resistência à abrasão “Los Angeles" 40%
  • Índice de vazios maior ou igual a 32%;
  • Índice de suporte Califórnia (CBR) maior ou igual a 80%.

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Como verificar os requisitos da norma ABNT NBR 16416?

A análise envolve o coeficiente de permeabilidade do revestimento, a resistência mecânica e a resistência ao desgaste em uso/abrasão.

“O coeficiente de permeabilidade pode ser verificado em laboratório (teste da camada de revestimento) ou em campo, logo após a obra finalizada. O ensaio consiste em posicionar um cilindro vazado com diâmetro de 300 mm e altura de 50 mm”, explica Oliveira, que detalha o passo a passo:

  • Pré-molhagem: verter 3,6 l do topo do cilindro, mantendo uma velocidade que não ultrapasse a altura de lâmina de água de 15 mm e nem inferior a 10 mm no interior do cilindro (fazer previamente essas marcações no cilindro). Marcar o tempo de percolação dos 3,6 l. Tempo menor ou igual a 30s, usar 18 l, tempo maior que 30s, usar 3,6 l para a determinação do coeficiente de permeabilidade;
  • Em até 2 m após a pré-molhagem, utilizar a quantidade de água determinada durante a pré-molhagem;
  • Verter toda a água, mantendo a altura de líquido dentro do cilindro entre 10 mm e 15 mm de altura;
  • Medir o tempo de percolação desde o início até não haver água visível na superfície do revestimento;
  • Calcular o coeficiente de permeabilidade conforme a expressão: k = (C.m)/d^2.t), sendo:


k = coeficiente de permeabilidade (m/s)
C = fator de correção SI = 4.583.666.000
m = massa de água (18 kg ou 3,6 kg)
d = diâmetro interno do cilindro (300 mm)
t = tempo de percolação (s)  

O coeficiente de permeabilidade pode ser verificado em laboratório ou em campo, logo após a obra finalizada. O ensaio consiste em posicionar um cilindro vazado com diâmetro de 300 mm e altura de 50 mm
Cláudio Oliveira Silva

Já a resistência mecânica deve ser examinada conforme o tipo de revestimento. “Para as peças de concreto com juntas alargadas ou com vazados, é utilizado o método de ensaio da norma ABNT NBR 9781, que especifica a resistência mínima à compressão de 35 MPa”, informa o engenheiro. O mesmo método vale para as peças de concreto permeável. Porém, por se tratar de concreto poroso, a resistência mínima é de 20 MPa.

Os ensaios das placas de concreto permeável seguem o método da norma ABNT NBR 15805. A resistência à flexão mínima deve ser de 2 MPa. “Por fim, o concreto moldado no local deve ser ensaiado conforme a norma ABNT NBR 12142. Deve ter resistência à tração na flexão mínima de 1 MPa para tráfego de pedestre e 2 MPa para tráfego de veículos leves”, expõe.

A resistência ao desgaste em uso/abrasão de qualquer tipo de revestimento pode ser avaliada pelos critérios da norma ABNT NBR 9781. O desgaste máximo permitido é de 23 mm, utilizando-se o método de desgaste do cilindro e material abrasivo sobre a superfície do revestimento testado.

Fique atento!

O engenheiro Cláudio Oliveira Silva lembra que a ABCP conta com um selo de qualidade para esse tipo de material. Caso o fabricante não participe desse programa da Qualidade, ele deve apresentar laudos de ensaio de um laboratório acreditado pelo Inmetro, para que os ensaios tenham confiabilidade de resultados.

Procedimentos de execução

Independentemente do tipo de revestimento especificado em projeto, adequado ao tipo de tráfego e conforto de rolamento desejados, as camadas de base ou de sub-base devem respeitar as especificações da norma ABNT NBR 16416, tais como:

O nível mais alto do lençol d'água deve estar a 0,6 m da parte inferior da estrutura do pavimento (superfície do subleito);

  • A declividade máxima das áreas permeáveis deve ser de 5%;
  • A declividade máxima das áreas de contribuição deve ser de 20%;
  • A espessura das camadas de base ou de sub-base devem ser dimensionadas para o suporte mecânico (tipo de carregamento) e hidráulico (chuva local) do pavimento, adotando-se o maior valor entre os dois;
  • A granulometria dos materiais usados nas camadas de base ou sub-base deve permitir a percolação de água sem causar movimentação do revestimento, para isso é importante um material com granulometria o mais uniforme possível (partículas de mesmo tamanho), que proporcione um índice de vazios mínimo de 32%. Os agregados devem ser resistentes ao desgaste, sendo que o ensaio de abrasão Los Angeles faz essa verificação. E não devem ter finos que possam ser carreados pela passagem da água.

“Após a finalização da obra é importante medir o coeficiente de permeabilidade e programar as manutenções e limpeza para proporcionar a maior vida útil do pavimento”, recomenda Oliveira.

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Colaboração técnica

Cláudio Oliveira Silva – É Engenheiro Civil pela Universidade de Guarulhos, com especialização em Marketing pela ESPM; mestrado em Engenharia na área de materiais de construção e pós-graduação em Administração Industrial, ambos pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Gerente da Área de Inovação e Sustentabilidade da ABCP, responsável pelo desenvolvimento de produtos e ferramentas, focando o aumento de competitividade econômica/ambiental dos produtos à base de cimento. Atuante na ABNT, participando na elaboração e revisão de normas de pavimentos intertravado, alvenaria estrutural, tubos de concreto, telhas de concreto, agregados reciclados entre outros. É professor de Materiais de Construção, Tecnologia do Concreto e Tecnologia de Construção Civil da Universidade São Judas Tadeu/SP.