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Como a industrialização pode ser introduzida nos canteiros de obras?

Ela pode ser disruptiva, com a utilização de módulos off-site, ou mais gradativa, com a introdução de alguns componentes pré-fabricados. Confira 5 exemplos

Publicado em: 06/05/2021Atualizado em: 07/05/2021

Texto: Juliana Nakamura

Industrialização na construção civil
Um exemplo de industrialização é a obra do Condomínio Pátio Central, em São Paulo (Foto: Divulgação/Direcional Engenharia)
Mais recentemente, através do BIM (Building Information Modeling), os profissionais começaram a se aproximar de conceitos de produção industrial, o que é um grande facilitador para impulsionar toda a cadeia
Rafael Valadares

A industrialização da construção civil é chave para reduzir fragilidades do setor, como a baixa produtividade, a pouca digitalização e o uso intensivo de mão de obra. Embora a construção brasileira ainda seja essencialmente artesanal, já há uma razoável diversidade de soluções para elevar o patamar de industrialização do setor. Wood frame, steel frame, estruturas metálicas, madeira engenheirada, painéis de vedação de OSB e drywall, assim como os pré-fabricados de concreto, as fachadas unitizadas e os kits hidráulicos são alguns exemplos.

Optar por soluções pré-fabricadas, contudo, impõe algumas mudanças, a começar pela necessidade de se ter projetos mais detalhados do que os usados em construções convencionais. É importante, também, que os projetos se aproveitem da padronização, da modularidade e da quantidade de repetições. “Mais recentemente, através do BIM (Building Information Modeling), os profissionais começaram a se aproximar de conceitos de produção industrial, o que é um grande facilitador para impulsionar toda a cadeia”, analisa Rafael Valadares, diretor de engenharia técnica na Direcional Engenharia.

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Confira a seguir cinco exemplos de como tecnologias industrializadas podem ser incorporadas aos projetos.

1) Pré-fabricados de concreto — Os elementos pré-fabricados de concreto são amplamente utilizados em projetos que têm a velocidade de execução como um requisito importante. Esse é o caso de obras industriais, comerciais e de infraestrutura. Mais recentemente, elementos como escadas, vigas protendidas e lajes alveolares passaram a ser bastante incorporados também em outras tipologias de projeto, inclusive em edifícios residenciais e corporativos. “No Brasil é possível encontrar edifícios de até dez andares integralmente construídos com estruturas pré-fabricadas de concreto. Já em edifícios maiores, os pré-fabricados podem compor sistemas híbridos com sistemas moldados in loco ou de aço”, comenta Íria Lícia Oliva Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto (Abcic).

No Brasil é possível encontrar edifícios de até dez andares integralmente construídos com estruturas pré-fabricadas de concreto
Íria Lícia Oliva Doniak

2) Instalações prediais — Kits de instalações hidráulicas e elétricas propiciam, em diferentes graus, ganhos de produtividade e diminuição do esforço gerencial das construtoras. “Com kits industrializados de componentes elétricos e hidrossanitários conseguimos resultados relevantes não só na redução do prazo e custo de obra, mas também na qualidade do produto final, segurança do trabalho para nosso time e redução significativa de geração de resíduos”, comenta Valadares, da Direcional.

3) Substitutos da alvenaria — Paredes de drywall (para vedação interna) e chapas cimentícias (para vedação externa) têm se consolidado como alternativa para a execução de alvenarias seja em obras com executadas com estruturas convencionais ou com estruturas pré-fabricadas. Há, também, as paredes de concreto, sistema no qual estrutura e vedação são formadas por um único elemento moldado in loco em formas metálicas ou plásticas. Essa solução é indicada para a construção de casas térreas, sobrados e edifícios de até cinco pavimentos. No entanto, exige um alto grau de repetição para se viabilizar financeiramente.

4) Fachadas industrializadas — A execução de fachadas é uma das etapas construtivas com maior potencial de se beneficiar com soluções industrializadas. Nos últimos anos, a indústria incrementou as alternativas disponíveis com painéis em GRFC (Glass Fiber Reinforced Concrete) e termoisolantes, as fachadas ventiladas, além dos painéis em steel frame e em wood frame. Algumas dessas tecnologias permitem redução no tempo de execução em até 80%, com alta estanqueidade e leveza sobre as fundações.

5) Linha de montagem — A construção modular off-site se baseia em módulos industrializados fabricados em máquinas de alta precisão, após um processo de planejamento e compatibilização rigoroso apoiado pelo BIM. Os módulos podem ser estruturados sobre chassis metálicos ou de madeira engenheirada. Uma vez prontos, são transportados em carretas para montagem e acabamento no local de implantação. Esse é um segmento que vem sendo liderado por startups e recebido investimentos pesados, inclusive no Brasil. A Gerdau, por exemplo, aposta na expansão do mercado de construção modular. Tanto é que adquiriu parte da Brasil ao Cubo, construtech que trabalha com sistema off-site baseado em chassis de aço.

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Colaboração técnica

 
Rafael Valadares — Engenheiro civil pela UFMG e pós-graduado em gestão de negócios pela FGV, possui mais de 25 anos de experiência na construção civil. Atua na Direcional Engenharia desde 2007, onde atualmente é diretor de engenharia técnica.
 
Íria Lícia Oliva Doniak — Engenheira civil formada pela PUC/Paraná, é presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic).