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Cidade inteligente gera qualidade de vida aos cidadãos. Entenda por que

A tecnologia aperfeiçoa os serviços prestados aos moradores, desde a saúde e educação até a coleta de lixo e o saneamento, mas deve ser adequada ao tamanho dos municípios

Publicado em: 08/07/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Smart city
A tecnologia pode melhorar a prestação de serviços como a mobilidade urbana, a saúde e a educação (Foto: jamesteohart/Shutterstock)

O conceito de cidade inteligente tem várias linhas de discussão. Em comum entre elas, está a definição de que a smart city, sua denominação em inglês, seria aquela embasada na tecnologia. De acordo com Leopoldo de Albuquerque, fundador e presidente global do Instituto Smart City Business America (SCBA), o recurso seria utilizado para potencializar e gerar qualidade, rapidez e confiança nos serviços prestados à sociedade. “Isso é verdade quando áreas das instâncias de governo adotam a tecnologia para dar transparência e oferecer serviços de maneira rápida e simples à população. Inclusive, evitando o deslocamento das pessoas aos órgãos públicos para a solução de problemas”, diz.

Metrópoles x cidades pequenas

Em metrópoles como São Paulo, quando o tema é mobilidade, a ideia é aplicar tecnologias que tornem o ir e vir mais rápido e eficiente. Isto não se faz, necessariamente, construindo mais ruas e viadutos, mas adotando múltiplos modais
Leopoldo Albuquerque

Outra escola de pensamento diz que a cidade inteligente, independentemente de embarcar tecnologia, tem por objetivo final gerar qualidade de vida aos seus moradores. Os ingredientes seriam o conforto, a praticidade, a segurança e, de novo, os serviços de qualidade. Albuquerque ressalva que a tecnologia deve ser considerada essencial para cada perfil de município. “Em metrópoles como São Paulo, quando o tema é mobilidade, a ideia é aplicar tecnologias que tornem o ir e vir mais rápido e eficiente. Isto não se faz, necessariamente, construindo mais ruas e viadutos, mas adotando múltiplos modais, até mesmo bicicletas e patinetes”, explica.

No caso de pequenas cidades do interior, com 3 mil habitantes, por exemplo, a mobilidade não é problema, pois a maioria se desloca a pé. Assim como não faz sentido pensar em tecnologia aplicada à área de segurança se, nesses locais, é incomum a ocorrência de crimes. “Já numa metrópole, a qualidade dos serviços de segurança é otimizada quando a tecnologia é embarcada em câmeras dotadas de inteligência artificial e centros de comando e controle que reúnem polícia, bombeiros e serviços móvel de urgência (SAMU)”, destaca.

Tecnologia na saúde e educação

Difundidas amplamente desde o início da pandemia de Covid-19, as teleconsultas melhoraram a mobilidade, ao evitar a locomoção de pacientes até os hospitais e consultórios médicos. Ele lembra que já existem e vão se disseminar rapidamente os softwares acoplados ao celular para, online, em contato com o médico, o paciente medir os sinais vitais e, até mesmo, realizar exames de sangue e de imagem, como ultrassonografia.

“Numa cidade pequena, essa tecnologia seria, talvez, mais necessária do que nas grandes. É um caso em que a tecnologia pode ter impacto positivo”, considera. E nem todos os moradores precisariam ter em mãos esse recurso para se conectar com um médico em qualquer lugar do Brasil. Bastaria que a farmácia local ou posto de saúde em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizasse a tecnologia aos pacientes, que teriam seu prontuário de saúde registrado em sistema e as receitas enviadas online.

Albuquerque defende que recursos similares também podem elevar o nível da educação formal no país. Partindo do princípio de que os melhores professores estão nos grandes centros urbanos, os alunos do interior poderiam ter aulas remotas. “Ao invés de um professor local dar aula para 30 alunos, um mestre à distância alcançaria 30 mil alunos”, sugere, dizendo que o sistema poderia funcionar numa sala, onde o professor da escola atuaria auxiliando.

Mas, alerta: para que todos esses sistemas funcionem e as smart cities se tornem realidade, é preciso que internet de qualidade esteja disponível em todo o país. “Basta ver que, durante a pandemia e com ensino remoto, alunos mais pobres não têm acesso à internet e, portanto, ficam sem aula. Esse é um problema que os governos precisam resolver”, reforça.

Poder público ou iniciativa privada

Os governos, no mundo todo, não têm recursos financeiros para investir e atingir o status de cidades inteligentes
Leopoldo Albuquerque

O SCBA defende que as cidades inteligentes só vão existir a partir da ação da iniciativa privada. “Os governos, no mundo todo, não têm recursos financeiros para investir e atingir o status de cidades inteligentes. Na América Latina, a maioria dos prefeitos não tem competência técnica para gerir as cidades e conhecer as tecnologias que devem ser aplicadas. Os governantes são políticos e não foram preparados para serem gestores públicos, o que é limitador”, observa.

Albuquerque entende que a iniciativa privada, por contrato com o poder público ou com os consumidores, precisa manter atualizadas as versões tecnológicas de que dispõe, para que seu investimento seja o menor possível. Assim, adquire a melhor tecnologia em custo-benefício, ao passo que os governos compram pelo menor preço que, em geral, não são os melhores sistemas. “As duas partes devem estar conectadas. Ou seja, o poder público deve identificar suas necessidades e criar as condições e garantias para que o setor privado possa responder”, argumenta.

Exemplos de iniciativas inteligentes

Não há, em todo o mundo, cases de smart cities, apenas ações inteligentes em algumas cidades. O exemplo mais lembrado é o de Barcelona (Espanha), onde há uma série de serviços aprimorados com o uso de tecnologias diversas. É o caso do sistema subterrâneo pneumático, dispostos em ruas e edifícios, que suga os sacos de lixo até centrais de coleta e separação. “Não cobre a cidade inteira, é pontual”, conta, comentando que se trata de sistema caro.

Já as operações de coleta de lixo que utilizam sensores de medição IoT (Internet das Coisas) em lixeiras públicas evitam a construção de canalização sob o solo e traz vantagens. O funcionamento é simples: assim que o recipiente está cheio, o caminhão do lixo é automaticamente informado e recolhe apenas nesses locais. “Ao maximizar a operação de coleta, ela se torna mais econômica e ágil”, diz.

A tecnologia IoT está presente em várias cidades brasileiras, inclusive para outros fins, como em bueiros, avisando quando precisam de limpeza; na iluminação pública, registrando a ocorrência de lâmpadas queimadas; e apontando vazamentos de água na rede de distribuição. Essa facilidade elimina a necessidade de a população ter que alertar os prestadores de serviços. Exemplo recente foi a assinatura do contrato de Parceria Público-Privada (PPP) entre a prefeitura da capital mineira com o consórcio BH Iluminação Pública, para a telegestão e revitalização do sistema.

“Depois da entrada em vigor do novo Marco Legal do Saneamento, empresas já estão inserindo IoT em seus projetos. Preveem, entre outros detalhes, que cada residência terá medição à distância e, se a pressão da água baixar, vai soar um alarme na central. Tudo isso registrado no painel do operador, sem que ninguém precise ir à campo”, relata, reforçando que são exemplos simples e já existentes de recursos que tornam as cidades mais inteligentes.

Albuquerque fecha o rol de exemplos com a cidade de Masdar, em Abu Dhabi, localizada a 100 km de Dubai, uma espécie de vitrine de tecnologia, inclusive com carros autônomos que transitam por vias subterrâneas. “No entanto, vi pessoas exploradas, como as que trabalham na construção civil expostas ao calor de 50 °C. Isso não é qualidade de vida, não é inteligente”, exclama. No outro extremo, cidades medievais na Europa, erguidas entre 500 e 1000 anos, que adotam o mínimo indispensável de tecnologia, são ótimas para viver.

Momento histórico de transição

O mundo vive uma revolução tecnológica em todos os aspectos, que agora ganha aliados importantes, principalmente a inteligência artificial. “O efeito colateral perverso é uma ruptura sem precedentes, com elevados índices de desemprego, e a tendência é piorar, muito. Porque a maioria que trabalhava em serviços ou indústrias convencionais não tem nível de educação formal para esse novo momento”, ressalta.

A questão primeira é o que fazer para incluir esse contingente de mão de obra nesse cenário que muda numa velocidade inédita. Se 100 anos foram necessários para a consolidação da revolução industrial, tempo suficiente para a adaptação das populações, a revolução tecnológica atual está acontecendo em uma única geração. “Dentro de 15 anos, não haverá mais motorista de Uber – função que ocupa boa parte dos desempregados –, porque os carros serão autônomos. Nem empregadas domésticas. A inteligência artificial assumirá tarefas em todos os setores e fará os subtrabalhos”, prevê.

Caberá aos governos adotarem postura inteligente e, num grande acordo global, estabelecerem estratégias para que essas populações assumam a atribuição mais nobre possível que um ser humano pode ter: cuidar de outras pessoas. Seja na educação ou na saúde, áreas em que há muito por ser feito. “Mas, até chegarmos a um ponto de equilíbrio, viveremos momentos dramáticos. O mundo precisa encontrar formas mais humanas de gerir negócios e fazer com que a tecnologia traga benefícios a todos”, conclui Leopoldo Albuquerque, lembrando que não adianta brigar, afinal, o novo sempre vence.

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Colaboração técnica

Leopoldo Albuquerque
Leopoldo Albuquerque – Formado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (1986), com mestrado na mesma universidade e, também, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Foi presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB-PE) e da R.E.D.E Suape. Fundou e é presidente global do Instituto Smart City Business America (SCBA).