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Carregadores de veículos elétricos exigem poucas alterações na edificação

Instalação depende da análise de carga do sistema elétrico e alguns pequenos ajustes. A instalação é simples, mas precisa ser feita por profissional especializado

Publicado em: 30/05/2018

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket


Com capacidade para incluir até 150 mil carros elétricos por ano, Governo incentiva a aquisição de veículos híbridos (foto: Shutterstock / Tom Wang)

Estudo elaborado pela Accenture Strategy, em parceria com a FGV Energia – Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas –, revela que o mercado nacional tem potencial para absorver 150 mil carros elétricos por ano. A demanda tende a aumentar, motivada por iniciativas adotadas pelo poder público. O governo federal, por exemplo, reduziu a alíquota dos híbridos de 35% para até 7%. Já a cidade de São Paulo oferece isenção do rodízio e desconto de 50% no IPVA para elétricos que custem até R$ 150 mil.

“Há um movimento muito forte, no mundo todo, em direção aos carros elétricos. Atualmente, são cerca de 5 mil veículos do tipo circulando pelo Brasil, e a expectativa é de que eles sejam 360 mil até 2026, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)”, comenta o engenheiro Raphael Pintão, sócio-diretor da Neosolar Energia. O número crescente faz com que aumente a atenção com a infraestrutura necessária para carregar esses automóveis.

Muitas vezes, o projetista dimensiona bem a carga total do edifício, mas não a distribui de maneira adequada. O resultado é a sobrecarga de alguns ramais
Raphael Pintão

Na instalação dos equipamentos, as edificações não precisam passar por reformas complexas, afinal, são necessárias pequenas mudanças nos circuitos elétricos pré-existentes. O mais importante é que o sistema consiga atender à potência do carregador, além das demais cargas previstas anteriormente no projeto elétrico. Em alguns casos, a distribuidora de energia precisa ser consultada para avaliar a necessidade de adaptações no fornecimento.

Os fabricantes dos aparelhos recomendam a utilização de um ramal dedicado. “É uma boa prática, apesar de não ser obrigatória”, afirma Pintão, indicando que a separação evita que outros eletroeletrônicos sejam ligados ao circuito e interfiram na potência. “Muitas vezes, o projetista dimensiona bem a carga total do edifício, mas não a distribui de maneira adequada. O resultado é a sobrecarga de alguns ramais”, completa. Segundo o engenheiro, essa falha não é tão incomum. Com os ajustes necessários no projeto elétrico e eventual aumento da capacidade de carga, qualquer tipo de empreendimento está apto a receber os equipamentos de abastecimento.

TIPOS DE CARREGADOR

O mercado oferece diferentes modelos de carregador, classificados conforme sua capacidade de carga. Os produtos são divididos em três grupos: os de tomada ou carga lenta, os fixos ou de carga média e os de carga rápida. “Na primeira categoria, estão os mais usados em emergências, por isso, não são tão recomendados”, explica o engenheiro da Neosolar. Nas residências, empresas e em outros estabelecimentos, a solução mais indicada é o de carga média. Já os de carga rápida são perfeitos para estradas. Servem para que os veículos possam rapidamente recarregar a bateria e prosseguir em viagens longas.

CUIDADOS NA INSTALAÇÃO

A instalação do aparelho, apesar de simples, exige mão de obra especializada. Isso porque o procedimento possui detalhes técnicos que grande parte dos engenheiros desconhece. “A atenção deve estar no dimensionamento de cabos e proteções elétricas (para equipamentos e pessoas), aterramento e proteção contra surtos”, enumera Pintão, afirmando que alguns carregadores sequer funcionarão se o aterramento não for adequado.

“Também não é inteligente economizar com proteção, pois haverá riscos aos veículos e até mesmo possibilidade de incêndio”, alerta o profissional. Depois da instalação, alguns testes precisam ser feitos com o uso de ferramentas especiais. Conectar o equipamento ao veículo antes de avaliar o funcionamento não é indicado.

No dia da inauguração da unidade Vila Olímpia, quatro veículos usaram os carregadores. Parece pouco, mas considerando que a frota de elétricos em São Paulo é de cerca de 200 unidades, podemos considerar a taxa de adesão bastante alta
Tiago Alves

NA PRÁTICA

O Spaces, em São Paulo (SP) é um empreendimento de coworking espaço de trabalho compartilhado –, tendência no mercado imobiliário nacional. “Desde a inauguração da primeira unidade, em junho do ano passado, incentivamos novas maneiras de mobilidade urbana. Este ano, nasceu a ideia de instalar carregadores veiculares para automóveis elétricos ou híbridos plug-in”, conta Tiago Alves, CEO da IWG, grupo detentor da marca Regus no Brasil. Apesar de no início existir certa dúvida sobre a real utilização dos equipamentos e até sobre o tipo de carro que poderia ser carregado, a aceitação dos usuários foi acima do esperado. “No dia da inauguração da unidade Vila Olímpia, quatro veículos usaram os carregadores. Parece pouco, mas considerando que a frota de elétricos em São Paulo é de cerca de 200 unidades, podemos considerar a taxa de adesão bastante alta”, comemora Alves.

Atualmente, a média de utilização do equipamento no empreendimento é de dois veículos por dia, sendo que cada um deles fica conectado ao aparelho em torno de duas horas. “As unidades de carregamento são encontradas em aplicativos que mostram todos os postos de recarga em São Paulo”, informa o CEO da IWG. Atualmente, a capital paulista tem apenas 30 pontos de carregamento.

A instalação dos equipamentos contou com assessoria especializada, que garantiu proteção para os veículos. “Ninguém gostaria de deixar o seu carro carregando e, por um problema na rede elétrica ou uma chuva torrencial, ter o investimento perdido”, destaca. O procedimento seguiu as diretrizes de normas técnicas europeias, que regulamentam a instalação e a manutenção desse tipo de aparelho.

Os equipamentos escolhidos para o Spaces têm potência de 7 kW/hora e são capazes de carregar um veículo sem nenhuma energia em até 4 horas. Durante os meses de utilização, não foi registrado nenhum tipo de problema operacional relacionado à qualidade dos produtos. “O que já aconteceu, e faz parte da cultura dos espaços de coworking, é um usuário ter que esperar outro terminar de energizar o seu veículo para poder carregar o seu. Mas, nesse caso, um trabalho de logística resolve a situação”, finaliza Alves.

 

Como pagar pela energia?

A maneira ideal de cobrar pela energia consumida pelos motoristas de carros elétricos ainda gera polêmica, pois não há regulação específica. “Uma alternativa é solicitar a instalação de relógios dedicados àquela carga, mas isso pode ser complicado ou financeiramente pouco interessante”, opina Raphael Pintão. Em condomínios, uma opção é utilizar carregadores com medidores próprios e criar uma regra de ressarcimento ao empreendimento, baseada na energia consumida. “Uma terceira alternativa, talvez a mais simples, é estimar o consumo médio e aplicar uma cobrança fixa aos usuários”, sugere o engenheiro. No entanto, algumas edificações não cobram nada dos usuários, iniciativa que visa a estimular práticas sustentáveis.

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Colaboração técnica

Raphael Pintão – Engenheiro formado pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Politecnico de Torino (Itália). É mestre em Business Administration pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Sócio da Neosolar Energia, já trabalhou como consultor em sustentabilidade na Axia Value Chain.
Tiago Alves – CEO da IWG no Brasil.