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Brasil é o país mais atingido por raios

Para minimizar esses acidentes está sendo feita a revisão da NBR 5419. A norma determina que a obrigatoriedade do para-raios depende do comprimento, largura e altura da edificação

Publicado em: 26/01/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

Para-raios

De acordo com relatório elaborado pelo Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –, raios foram a causa de 1.680 mortes registradas entre os anos de 2000 e 2013. Esse alto número pode ser explicado pela grande incidência de descargas atmosféricas que atingem o território nacional. São cerca de 50 milhões por ano, colocando o país como o primeiro na lista das nações mais atingidas por esse fenômeno no mundo.

Ciente desse cenário, a construção civil nacional prepara-se para tornar as edificações ainda mais seguras contra os raios a partir de 2015. Isso porque, no primeiro semestre do ano será publicada a revisão da ABNT NBR 5419 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas. “A nova norma terá cerca de 400 páginas, quase dez vezes mais do que a anterior. Será bem mais robusta, com novas exigências e informações”, avalia o engenheiro Normando Alves, diretor de engenharia da Termotécnica.

MUDANÇAS NA NBR 5419

Não são todas as construções que precisam do SPDA – Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas. A obrigatoriedade é definida por meio da avaliação técnica do projetista, que leva em consideração critérios que envolvem cálculos matemáticos e estatísticos
Normando Alves

Segundo Alves, entre as principais mudanças estão os novos números e critérios que tornarão as instalações mais eficientes e aumentarão o nível de proteção. “Todos os profissionais do setor precisam se atualizar”, afirma. Novidade também apresentada na nova norma é em relação à determinação da necessidade ou não do sistema de para-raios. “Não são todas as construções que precisam do SPDA – Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas. A obrigatoriedade é definida por meio da avaliação técnica do projetista, que leva em consideração critérios que envolvem cálculos matemáticos e estatísticos. Não existe uma regra”, explica.

 

ESPECIFICAÇÃO NO PROJETO

Entre os fatores que tornam necessária a instalação do para-raios, o engenheiro menciona comprimento, largura e altura da edificação, quantidade de descargas atmosféricas por quilômetro quadrado na região onde a construção será executada, entre outros. “Não existem sistemas diferentes, o que muda é o nível de proteção que cada um proporciona. Esse nível também interfere no custo total do sistema”, indica.

O engenheiro lembra ainda que a especificação do SPDA deve ser realizada juntamente com o projeto da edificação. “É possível instalar o sistema após o edifício estar pronto, porém o custo será maior. Além disso, podem ocorrer problemas estéticos e interferências no cotidiano dos ocupantes. É muito mais difícil e caro projetar e instalar o para-raios em uma edificação já pronta”, alerta.

É muito mais difícil e caro projetar e instalar para-raios em uma edificação já pronta
Normando Alves

INSTALAÇÃO DO PARA-RAIOS

Para realizar a instalação do para-raios existem empresas especializadas. “O ideal é que sejam contratados profissionais preparados, pois apesar de o sistema pertencer à classe de instalações elétricas, apresenta complexidade muito diferente das instalações convencionais”, recomenda o engenheiro.

É importante ressaltar que a função do sistema não é evitar que um raio caia sobre um prédio ou casa, e sim dirigir de maneira organizada e controlada essa descarga para o solo. Para realizar esse encaminhamento, o para-raios é composto por três grandes partes: captores, condutores e aterramento. Na cobertura do prédio é instalado o sistema captor, constituído por elementos metálicos, que têm a função de atrair o raio para acertá-lo, em vez de atingir a edificação. Ligado eletricamente aos captores fica o sistema condutor de descida, que transfere as descargas atmosféricas até o solo.

A função do sistema não é evitar que um raio caia sobre um prédio ou casa, e sim dirigir de maneira organizada e controlada essa descarga para o solo
Normando Alves

O raio é guiado pelo interior dos condutores, que podem ser de dois tipos: estruturais ou externos. No estrutural, a própria ferragem da edificação pode ser aproveitada, ou seja, os ferros das vigas e colunas cumprem o papel de condutor de descida. Já nos externos, essa função é desempenhada por cabos metálicos, preferencialmente de cobre, instalados de maneira externa à edificação.

Quando os condutores de descida chegam ao chão, há o eletrodo de aterramento, elemento metálico que fica instalado no solo e é responsável por receber as descargas e transferi-las para o solo. “O aterramento do SPDA pode ser o mesmo da parte elétrica da edificação, essa decisão também deve ser tomada pelo projetista. A tendência é que exista esse compartilhamento”, fala Alves.

A ABNT NBR 5419 determina que anualmente seja realizada inspeção visual de todo o sistema de SPDA. Se for verificado algum problema durante a vistoria, é elaborado relatório indicando qual é o tipo de manutenção necessária
Normando Alves

MANUTENÇÃO ANUAL

A ABNT NBR 5419 determina que anualmente seja realizada inspeção visual de todo o sistema de SPDA. “Se for verificado algum problema durante essa vistoria, é elaborado relatório indicando qual é o tipo de manutenção necessária. Há ainda outra inspeção que acontece a cada três ou quatro anos, dependendo do nível de proteção do sistema, que, além da verificação visual, também necessita de ensaios. São feitas medições de resistência do aterramento, testes de continuidade e outros estudos mais detalhados”, afirma o profissional.

É BOM SABER A vida útil do sistema deve ser a mesma da edificação, não há nenhum elemento na composição do para-raios que se desgaste com o passar do tempo. “Pode ser que, quando o sistema for atingido pelo raio, ocorra algum dano a determinado equipamento ou fiação. Esse problema pode ser identificado durante as inspeções anuais e resolvido, possibilitando ao SPDA manter seu desempenho. Se não houver intervenção humana ou natural, o sistema mantém seu desempenho durante toda vida útil do prédio”, finaliza Alves.

Colaborou para esta matéria

Ricardo Ruther
Normando Alves – Eletrotécnico, engenheiro civil e pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC/MG). Foi relator da NBR 5419/2005, sendo membro atuante do comitê de revisão da norma na ABNT. Atualmente, é diretor de engenharia da Termotécnica Indústria e Comércio, empresa especializada no setor de para-raios e vencedora de todas as edições do Prêmio Qualidade concedido pela revista Eletricidade Moderna. Palestrante nos principais congressos, simpósios e eventos – nacionais e internacionais – voltados para áreas de instalação, projetos e construção civil, promovidos por entidades como o CREA, SindusCon, Abrasip, ABEE, AMES e Coopptec.