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Bolor nas paredes pode causar danos às estruturas das edificações

Estratégias que privilegiem a ventilação cruzada e tirem proveito da incidência da radiação solar ajudam a evitar o problema

Publicado em: 15/08/2013Atualizado em: 31/03/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A umidade, a temperatura e o pH da superfície são fatores decisivos para o aparecimento, manutenção e aumento em extensão do bolor. “Os fungos filamentosos são micro-organismos que necessitam, obrigatoriamente, de compostos orgânicos como fonte de alimento. Tais substâncias podem ser encontradas na constituição de diversos materiais utilizados na construção civil. Muitos sistemas de revestimento podem servir como fonte nutricional direta, ou apenas comportar-se como substrato, suportando seu desenvolvimento”, afirma Fernanda Lamego Guerra, colaboradora em projeto de pesquisa da Universidade Federal de Pelotas.

Alguns tipos de madeira, aglomerados, compensados, gessos, placas acartonadas comuns, à base de compostos minerais, materiais degradáveis ou que apresentem texturas capazes de reter o depósito de sujeiras que possam servir como meio nutricional, tendem a se demonstrar mais favoráveis à proliferação de micro-organismos, seja pela sua constituição, seja por suas qualidades higroscópicas.

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Problemas na edificação

Rachaduras e vazamentos colaboram com o crescimento dos fungos, já que estão associados ao aumento da umidade nos materiais que suportam ou nutrem diretamente estes micro-organismos. Contudo, existem diversas outras fontes capazes de aumentar a umidade nas edificações: a condensação (presente no ar que condensa ao entrar em contato com superfícies de baixa temperatura); umidade proveniente do solo (ou ascensional, devido a falhas em sistemas de impermeabilização); umidade higroscópica (característica de materiais com alta capacidade de absorção ou devido à presença de sais higroscópicos); e a umidade de precipitação (proveniente das chuvas e que penetram na edificação por meio de fissuras ou falhas de vedação).

Outra possibilidade é a umidade de obra, resultado da água utilizada para composição dos materiais durante a construção da edificação, que tende a ser eliminada com o tempo.

Como o crescimento dos fungos é fortemente condicionado pelas características do microclima, o controle do comportamento higrotérmico das edificações é de grande importância. “As características construtivas e os elementos de construção vão condicionar as variações de umidade e temperatura no interior dos ambientes, sendo, portanto, decisivos quanto à predisposição ao desenvolvimento do problema. Paredes com elevado teor de água apresentam redução de sua resistência à transferência de calor, que em associação ao decréscimo da temperatura superficial podem favorecer fenômenos de condensação. Semelhante situação ocorre onde há encontro de diferentes elementos, por exemplo, entre estruturas de concreto e alvenaria. A perda de calor nestes locais tende a ser maior, propiciando a condensação pela redução da temperatura superficial. Estes pontos são reconhecidos como ‘pontes térmicas’”, comenta a arquiteta.

Outro problema causado pelo bolor diz respeito à estética, que diminui o valor da edificação. “Esses agentes microbiológicos podem causar a perda de coesão e consequente desagregação do material. Se for um elemento de natureza orgânica, como as madeiras, servirá como fonte nutricional direta e a excreção de ácidos orgânicos utilizados para o metabolismo desses micro-organismos proporcionará a degradação das fibras da madeira, com consequente perda de resistência e apodrecimento. No entanto, mesmo os materiais de natureza inorgânica podem ser deteriorados pela ação química dos ácidos excretados ou pela ação mecânica resultante do crescimento das estruturas de fixação e dos fungos filamentosos (hifas), que podem penetrar milímetros nas superfícies pétreas”, explica Fernanda.

Ela menciona também as questões de qualidade do ar. “Ambientes contaminados por bolor apresentam altas concentrações de esporos (estruturas microscópicas de reprodução dispersas no ar). Estes elementos são responsáveis pela manifestação de diversos processos alérgicos, resultando, muitas vezes, em sérios problemas de saúde”, completa.

Como resolver

Para evitar o problema, algumas ações podem ser implementadas já na fase de projeto. “As soluções adotadas devem ser capazes de manter um microclima adequado no interior das edificações, através do controle higrotérmico dos ambientes. A escolha de elementos da envoltória com características de isolamento térmico permite redução nas trocas de temperatura com o exterior e, por consequência, um melhor equilíbrio da umidade relativa do ar (UR), evitando ou amenizando situações que favoreçam a condensação. Estratégias que privilegiem a ventilação cruzada e fazem proveito da incidência da radiação solar também são bastante favoráveis”, indica a profissional.

Após o micro-organismo instalar-se em alguma superfície, o primeiro passo para resolver a questão é identificar a fonte de umidade que está sustentando seu desenvolvimento. Sendo sanada a origem da umidade, o local pode ser limpo e, se necessário, refeito o revestimento. “O mercado hoje disponibiliza vários produtos que ao serem aplicados sobre determinadas superfícies tendem a torná-las hidrófobas, reduzindo a absorção da umidade nos poros dos materiais, ou até mesmo com a adição de fungicidas, capazes de agir sobre o metabolismo desses agentes contendo seu crescimento. A eficácia destes tratamentos depende dos métodos e dos produtos empregados, contudo o crescimento destes micro-organismos causadores do bolor retornará inevitavelmente, se persistirem as condições ambientais que estão favorecendo seu desenvolvimento”, recomenda a arquiteta.

Ela complementa que o bolor é um problema de difícil solução, visto que a simples remoção e aplicação de produtos fungicidas não se apresentam como uma medida definitiva e o problema tende a retornar. “Devido à complexidade da interação dos diferentes fatores, bem como a variabilidade de fungos filamentosos existentes, com diferentes padrões de exigência, e ainda a variabilidade de materiais de construção, o problema requer ainda o desenvolvimento de estudos capazes de aprofundar a compreensão desta relação ‘edificação e clima’, de maneira a ponderar os padrões da UR e temperatura no interior dos ambientes, considerando os materiais aplicados, formas de ocupação e manutenção”, finaliza Fernanda.

Colaborou para esta matéria

Fernanda Lamego Guerra – Arquiteta e urbanista pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestra em Arquitetura e Urbanismo PROGRAU – FAURB – UFPel, na área de Qualidade e Tecnologia do Ambiente Construído, linha de pesquisa: Gestão, Produção e Conservação do Ambiente Construído. Formação complementar na área de Patologia das Edificações. Colaboradora em projeto de pesquisa em desenvolvimento junto ao Laboratório de Conforto e Eficiência Energética da Universidade Federal de Pelotas – Monitoramento e controle microclimático como ferramenta para evitar a reincidência de fungos filamentosos em edificação histórica pós-intervenção de restauro.