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Arquitetura de UTIs: veja dicas de como projetar e o que considerar

Desde a sua localização até os diversos postos e salas de suporte necessárias à atividade recuperativa dos pacientes, o projeto das Unidades de Tratamento Intensivo segue regulamento técnico e exige conhecimento

Publicado em: 30/03/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Projetos de Unidades de Terapia Intensiva
A localização da UTI não deve se confundir com a entrada principal do hospital ou de outros setores (Foto: sfam_photo/Shutterstock)

A distribuição e a qualidade das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pelo território brasileiro refletem a desigualdade de desenvolvimento entre as regiões do país. Para o arquiteto Siegbert Zanettini, diretor-geral da Zanettini Arquitetura, que há 60 anos projeta equipamentos de saúde, faltam UTIs e a improvisação é a tônica na maioria dos hospitais. Na outra ponta, instituições de alto padrão investem em tecnologias como a robótica e o laser. São recursos que auxiliam no tratamento, evitando o encaminhamento ao centro cirúrgico. “Independentemente do porte, não tem porque o hospital não ser dotado de bons equipamentos, que aliviam o tratamento”, diz.

Na década de 1990, em visita ao Boston Children’s Hospital (EUA), Zanettini foi conquistado pela cena de crianças internadas brincando alegres com seus cães. Essa liberalidade não é gratuita, mas comprovadamente colabora com a recuperação dos pacientes. “A partir daí, passei a introduzir esse tipo de procedimento em hospitais que projetei no Brasil”, conta o arquiteto, que assina projetos como o do Hospital e Maternidade São Luiz – Anália Franco e do átrio do Hospital Albert Einstein-Morumbi, entre outros.

Critérios para o projeto

Independentemente do porte, não tem porque o hospital não ser dotado de bons equipamentos, que aliviam o tratamento
Siegbert Zanettini

Em sua trajetória, o arquiteto constata importantes falhas conceituais na arquitetura das UTIs de boa parte dos quase seis mil hospitais públicos e privados existentes no país. “As principais são suas dimensões em relação ao porte da instituição, a localização equivocada no zoneamento hospitalar, além de improvisações inadequadas, limitações de espaço, ausência ou inadequação de equipamentos essenciais, assim como de área exclusiva para ambulâncias”, registra.

A localização da UTI não deve se confundir com a entrada principal do hospital ou de setores como o de admissão e alta. “Seu local é estratégico e, normalmente, ela deve estar ligada aos centros cirúrgico e obstétrico, para garantir rapidez no fluxo de pacientes que vão e retornam para a unidade”, ensina. Se implantada em local inadequado, vai aumentar a distância e o tempo de deslocamento, ameaçando a segurança do paciente. Por seu papel recuperativo, a UTI também não pode ter a mesma porta de entrada do pronto-socorro (PS), onde é feito o atendimento básico. Se do PS o paciente é encaminhado para cirurgia, será preparado em antessala específica, contígua ao centro cirúrgico.

De acordo com Zanettini, a improvisação é recorrente em hospitais distantes dos grandes centros econômicos do país. “Se não tem UTI, eles separam um cantinho, colocam umas baias com leitos separados por cortinas – ou nada – e não providenciam os equipamentos essenciais ao atendimento feito pela equipe de saúde”, afirma, lembrando que esses locais, muitas vezes, sequer dispõem de rede de oxigênio e monitores cardíacos. Ele considera que, nos hospitais públicos, é dispensável o luxo da hotelaria dos melhores do país. Porém, toda e qualquer instituição de saúde deve ser construída a partir de um projeto completo e de acordo com os requisitos da RDC 50, documento técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de fevereiro de 2002.

Sistemas prediais mais exigentes

Por suas exigências de sistemas hidráulicos e elétricos e rede de fornecimento de gases medicinais, as instalações prediais das UTIs são mais complexas. É o caso das centrais de oxigênio, que são alimentadas por caminhões dos fornecedores e o oxigênio é distribuído internamente por sistema de rede de tubulação e acessórios, que controlam fluxo, pressão, temperatura e segurança. “O que assistimos em Manaus, no início de 2021, é que os hospitais não têm esses centros de acumulação e nem as redes de gases, entre eles o oxigênio. Acabam utilizando o cilindro padrão ao lado de cada leito, quando têm”, explica.

Levar o sol, o vento e a possibilidade de percepção do entorno para um local de atendimento ao paciente é fantástico, auxilia muito na recuperação. Todos os meus hospitais têm uma preocupação ambiental muito forte
Siegbert Zanettini

Para ilustrar, Zanettini relata o projeto de reforma que fez no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, próximo ao parque Ibirapuera (SP), projetado originalmente por Oscar Niemeyer. “Todas as tubulações foram instaladas dentro do concreto, nos pilares do térreo. Elas estavam em condições precárias e, sem acesso, era impossível realizar manutenções dos sistemas”, explica. A solução foi deixar o que existia dentro dos pilotis e criar shafts verticais visitáveis, como é feito em seus projetos hospitalares.

O retrofit de grande porte incluiu uma nova área, a UTI infantil, dotada de iluminação e ventilação natural. Afinal, no passado era comum que a arquitetura hospitalar pensasse as unidades de terapia intensiva completamente vedadas, localizadas até mesmo no subsolo do edifício, acreditando-se que, assim, o ambiente estaria preservado da entrada de vírus e bactérias. “Levar o sol, o vento e a possibilidade de percepção do entorno para um local de atendimento ao paciente é fantástico, auxilia muito na recuperação. Todos os meus hospitais têm uma preocupação ambiental muito forte, é o conceito de arquitetura sustentável que pratico há décadas”, frisa.

Hospitais sustentáveis aumentam o bem-estar de pacientes, visitantes e médicos

Layout das UTIs

O desenho das UTIs segue um padrão, que organiza a dinâmica dos procedimentos inerentes ao tratamento dos pacientes. Na área central do espaço, fica o posto de enfermagem, onde se concentram as atividades de médicos, enfermeiros e auxiliares. Anexa ao posto está a área de suporte, que recebe e prepara os insumos que chegam de outros setores do hospital, como farmácia e laboratórios. Ali também são separados e destinados os resíduos.

Há uma sala dedicada aos materiais e produtos de limpeza e desinfecção, e outra que guarda todo o instrumental, vestimenta e EPIs dos profissionais da unidade. Em todo o perímetro do ambiente, localizam-se as baias, que vão de confortáveis suítes nos hospitais privados de melhor padrão até as coletivas, sem qualquer divisória de privacidade. Fora, mas integradas à UTI, estão as áreas para estacionamento de macas e ambiente apropriado para recepção dos familiares, que são informados sobre o quadro do paciente.

Revestimentos e cores

As cores dos revestimentos de piso e parede das UTIs acompanham as decisões do estudo cromático adotadas para todo o hospital. “O programa de soluções para o revestimento deve ser condicionado ao seu uso, ou seja, material de alta resistência. Já reformei hospital que o piso tinha tão baixa performance que soltava e espalhava pó”, conta o arquiteto, lembrando a importância do piso em qualquer setor do ambiente hospitalar. O critério é o material que exija o mínimo de juntas, para garantir a assepsia. Zanettini privilegia o granito, por sua elevada resistência, vida útil e facilidade de limpeza, e indica também os vinílicos e porcelanatos, que hoje têm juntas quase imperceptíveis e sem diferença de cota.

Projeto de UTIs móveis: ainda no papel

Em abril de 2020, o arquiteto Siegbert Zanettini participou de um grupo multidisciplinar de estudos, a convite do professor Ruy Marcelo Pauletti, da Escola Politécnica da USP, intitulado UTI MOV Brasil. O objetivo foi a concepção de projeto para a produção de UTIs móveis, a serem implantadas em todo o país. A ideia foi utilizar containers completos que seriam instalados em áreas externas de redes hospitalares ou, mesmo, unidades autônomas, que atenderiam localidades desprovidas de assistência médica. “Coube a mim a parte de arquitetura e aos demais profissionais, muitos engenheiros, o desenvolvimento da parte de instalações. Essas unidades seriam montadas rapidamente, em grandes centros de produção como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Infelizmente, o projeto, já concluído, não sensibilizou as autoridades públicas e privadas”, relata.

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Colaboração técnica

Siegbert Zanettini
Siegbert Zanettini – Arquiteto e urbanista, é diretor-geral do escritório Zanettini Arquitetura, reconhecido como um dos principais no Brasil, com mais de 56 anos de história. É uma empresa de excelência em design arquitetônico contemporâneo, planejamento urbano e consultoria para a construção civil. É também responsável pelo desenvolvimento de grandes projetos que se destacam no cenário da sustentabilidade, da ecoeficiência e dos green buildings brasileiros. Especialista em projetos hospitalares, condição atestada por referências, títulos e prêmios, além do reconhecimento público como o maior especialista em edificações com estrutura metálica do País. Em sua trajetória profissional, o arquiteto titular recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, em destaque, o Prêmio Top 1 Internacional World Green Building Council, em San Francisco, USA, por sua atuação e empreendedorismo. O prêmio reafirmou a posição da Zanettini Arquitetura no cenário contemporâneo, na vanguarda pioneira e inovadora onde vem desenvolvendo, há décadas, novas tecnologias e sistemas de qualidade com ótimas condições ambientais.