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5 ações que poderiam evitar desabamentos como o ocorrido em Fortaleza

Manutenção adequada e contratação de empresas capacitadas podem evitar tragédias. Saiba como

Publicado em: 02/12/2019Atualizado em: 10/03/2021

Texto: Juliana Nakamura

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A falta de inspeção e manutenção em edificações reflete em prejuízos financeiros e em um grande risco às pessoas e à sociedade (Foto: divulgação/ SSPDS-CE)

O desabamento do edifício Andrea, no dia 15 de outubro, em Fortaleza, CE, acendeu um alerta sobre a importância da inspeção e da manutenção periódicas das estruturas. Embora as causas do acidente – que resultou na morte de nove pessoas ainda estejam sendo apuradas –, informações preliminares dão conta de que a estrutura de concreto do edifício de sete andares apresentava manifestações patológicas com avançado estado de corrosão das armaduras dos pilares. Também já se sabe que a administração do condomínio havia contratado uma empresa para a realização de reparos na estrutura, construída em 1982.

Raros e trágicos, eventos deste tipo sempre deixam lições importantes. Confira a seguir cinco ações fundamentais para evitar o colapso de estruturas.


1) Fazer inspeções periódicas regulares

Há um mito a ser combatido de que os edifícios são eternos e que não exigem qualquer tipo de manutenção. Para agravar a situação, a tomada de decisão em condomínios costuma ser lenta. "Não é fácil convencer os condôminos sobre a necessidade de arrecadação de taxas adicionais", comenta o engenheiro Enio Canavello Barbosa, vice-presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). Segundo ele, a solução pode ser inspirada na indústria automobilística, que  conseguiu criar nos proprietários de veículos a rotina de acompanhar revisões periódicas.

Deve-se dar atenção, principalmente, para a revisão nos sistemas de impermeabilização das lajes do subsolo, pois a infiltração de água acelera a corrosão da armadura que, consequentemente, leva à perda de capacidade de resistência
Alexandre Tomazeli

A falta de inspeção e manutenção em edificações reflete em prejuízos financeiros e, o mais grave, em um grande risco às pessoas e à sociedade. “Deve-se dar atenção, principalmente, para a revisão nos sistemas de impermeabilização das lajes do subsolo, pois a infiltração de água acelera a corrosão da armadura que, consequentemente, leva à perda de capacidade de resistência”, explica o engenheiro Alexandre Tomazeli, do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias em Engenharia de São Paulo (Ibape/SP).

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2) Adotar boas práticas e capacitação para evitar falhas de projeto e de execução

Segundo Tomazeli, os fenômenos patológicos em edificações podem ser congênitos, gerados durante a execução ou, ainda, ser adquiridos ao longo da vida útil da edificação. No primeiro grupo estão os erros de projetos ou o não atendimento às normas técnicas vigentes. Esse foi o motivo que levou ao colapso do Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, por exemplo.

As falhas que são adquiridas durante a obra podem ser resultado do uso de materiais incompatíveis com os especificados em projeto e de erros de execução, como falhas de concretagem. Neste ponto, o engenheiro do Ibape-SP chama a atenção para a necessidade de especificar o concreto em função da agressividade do ambiente.

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3) Prevenir manifestações patológicas derivadas de uso inadequado da estrutura

Falhas que levam à ruína das estruturas podem ser resultado, também, de problemas adquiridos ao longo da vida da edificação. Ao que tudo indica até o momento, esse foi um fator decisivo para o desmoronamento do edifício Andrea, em Fortaleza.

Neste grupo de falhas enquadram-se, por exemplo:

• Ausência de manutenções preventivas e/ou corretivas, conforme as imposições das ABNT NBR 16280:2014 - Reforma em edificações. Sistema de Gestão de Reformas
• Mudança de uso (aumento de carga), sem as devidas verificações de cálculo e eventuais reforços estruturais
• Falta de limpeza das fachadas no caso de concretos aparentes

4) Quando necessário, realizar projeto de recuperação com profissional qualificado

Qualquer intervenção estrutural deve ser executada tomando como base um projeto específico de recuperação. Neste ponto, é importante que administradoras e síndicos saibam que somente um engenheiro civil ou arquiteto habilitado especialista em Patologias das Construções pode avaliar as condições das estruturas de concretos, bem como de revestimentos de fachadas e outros sistemas das edificações.

5) Contratar empresa de reforma ou reparo estrutural competente

É imprescindível que a empresa entregue a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) da execução dos serviços. Assim, já se evitam empreiteiros sem qualificação
Enio Canavello Barbosa

O processo de contratação da empresa que irá realizar o reparo estrutural é de extrema responsabilidade. Uma recomendação é verificar previamente o currículo da possível contratada e visitar obras que foram executadas por ela. "É imprescindível que a empresa entregue a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) da execução dos serviços. Assim, já se evitam empreiteiros sem qualificação", destaca Barbosa.

"A preferência deve ser por empresas capacitadas/especializadas com experiência. Se a empresa for jovem, é importante que seus gestores sejam especialistas e tenham experiência neste tipo de trabalho", complementa Tomazeli, reforçando que esse tipo de serviço jamais deve ser contratado pelo menor preço. "Na dúvida entre o mais barato e o mais caro, opte pelo orçamento de valor mediano e por preço global", orienta o engenheiro.

Por que os prédios caem? 

O engenheiro Alexandre Tomazeli explica que a segurança de qualquer estrutura se dá, conforme as normas vigentes, pelos coeficientes de segurança ELU – Estado Limite Último (ruína) e ELS – Estado Limite de Serviço (segurança estrutural). Este último é o coeficiente admitido nos projetos estruturais.

Toda vez que uma estrutura sofre algum tipo de ocorrência não prevista em projeto, como sobrecargas, uso indevido e corrosão de armaduras, estes limites estabelecidos em norma tendem a aproximar-se.

Quando o ELU ultrapassa o ELS, significa que a estrutura está doente e pode entrar em colapso. É isso que deve ser evitado. "Daí a importância da inspeção predial e intervenções adequadas no prazo máximo estabelecido pelo profissional especialista em projeto de estruturas e/ou patologias das construções", salienta o engenheiro do Ibape-SP.

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Colaboração técnica

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Alexandre Tomazeli - Membro do Ibape/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias em Engenharia de São Paulo), é engenheiro civil com mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia pelo IPT (Instituto Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Sócio diretor técnico da Toten Tomazeli, é também autor do livro "Estruturas paralisadas de concreto armado de edifícios - Inspeção, análise e aceitação" pela editora Leud.
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Enio Canavello Barbosa – Vice-presidente de relacionamento da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). É engenheiro civil pelo Instituto Mauá de Tecnologia e sócio-diretor da Edatec Engenharia.