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Simplicidade nos mínimos detalhes

Publicado em: 24/10/2007

Vou descrever aqui o debate muito proveitoso que tive um dia desses em uma aula do curso de Design de Interiores da Panamericana Escola de Arte e Design, onde tenho o privilégio de conversar com alunos sobre alguns detalhes muito interessantes da profissão.

Estávamos vendo imagens fotográficas de ambientes residenciais. Em certo momento, uma aluna interrompeu e perguntou se eu gostava do projeto que estava sendo apreciado. Era um desses ambientes rebuscados, cheios de cacarecos e muito enfeitado. Não respondi e nunca irei, pois não é de minha honra menosprezar ninguém, mas é claro que a lógica da simplicidade é muito mais terrena. Encontra-se ainda perambulando pelos rebuscados e empoeirados cantos do desenvolvimento imobiliário o tal estilo Neo-clássico e até o Rococó, que fazem muitos grandes arquitetos e designers se revirarem do avesso, contorcendo-se de dores abdominais.

Hoje, "menos é mais", como enfatiza o mestre notável, Aurélio Martinez Flores. Em sua lógica, Aurélio renova questões levantadas em um passado bem recente. Entender o fenômeno que nos cerca é a diferença que fez o ser humano chegar até aqui. O que não dá para engolir é o resplandecer de um passado que nem é nosso. Como cutucou Bruno Munari, o “luxo é um lixo”. As questões que encontro em um ambiente rebuscado estão associadas à ostentação e nada mais.

Em outra imagem, de um ambiente residencial, aparecia um belo piano de cauda repleto de porta-retratos, o que suscitou uma outra discussão sobre a necessidade de mais um ser humano contratado para limpar todos aqueles cacarecos. Uma aluna colocou que adorava fotos em todos os porta-retratos que ganhou e colecionou por toda a vida. Mas não é mais fácil limpar o pó com um paninho úmido e uma passada de mão só? Aliás, a vida vai ficar mais barata se não tivermos mais coisas para limpar e mais coisas para guardar. Ficará mais barata, se não tivermos mais uma pessoa para limpar. Não é isso que as pessoas de bom senso procuram? Simplificar?

Simplificar é muito mais “cool”, bacana. Se sobrar um dinheiro porque você conseguiu economizar e simplificar sua vida, tome um bom vinho e faça um brinde, ao menos é ‘’muito mais legal”. Valorize os produtos nacionais, escolha menos cores, diminua a vontade de comprar, desacelere e, se precisar de alguma coisa, antes de escolher, pesquise a procedência. Use o raciocínio sustentável.  Dê preferência aos fabricantes ou comerciantes comprometidos com energia limpa, redução e aproveitamento de resíduos, reuso de água, responsabilidade social entre outras iniciativas sustentáveis. Nossos filhos e netos irão agradecer. Simplifique. Não faça da sua casa um mostruário de materiais. Cheque se o que pretende adquirir é realmente necessário e fundamental. Se possível, compre um único carro para toda sua vida. Faça manutenção periódica. Use chinelos, jeans e camisetas básicas brancas. Simplifique e curta mais.

“Salve, salve a simplicidade

Tú és nobre presença, marcante

Salve, salve o menos

E, com ele, mais feliz…”