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Pobre Engenharia

Publicado em: 29/08/2014

No jornal Estadão do dia 23 de julho, foi noticiado que o projeto do bloco que amparava as estacas de um dos pilares do viaduto que desabou em Belo Horizonte, durante a Copa do Mundo, previa apenas 10% da armadura necessária. A falha foi descoberta por consultoria contratada pela empreiteira para detectar o porquê da tragédia.

É possível que não haja tanta ferramenta à disposição das empresas como hoje, para que a gestão de projetos seja realizada de forma completa e dentro dos critérios rigorosos de segurança. É impactante, sobre todos os aspectos, pensar que uma não conformidade técnica, como a relatada no parágrafo de introdução deste artigo, possa ter passado pelo crivo dos profissionais envolvidos no projeto e obra inclusos.

Democratizou-se o processo de falhas grosseiras, o que se pensava poder ocorrer apenas em obras de menor porte — tocadas, muitas vezes, sequer por um engenheiro em tempo integral. Ocorre, também, no projeto de uma obra emblemática de mobilidade e relacionada com a Copa do Mundo.

Não restam dúvidas de que a tecnologia aplicada tem tudo para melhorar a vida do engenheiro moderno. Todavia, o que se vê, cada vez mais, é a falta de cuidado na análise e crítica dos documentos que servirão de base para a construção do empreendimento, a terceirização em favor da máquina.

No caso da obra em Belo Horizonte, é possível que o erro de projeto tenha se repetido para ao menos dez outros pilares. Não dá para imaginar o prejuízo de imagem que isso causa para a Construção Civil nacional.

Profissionais cada vez menos preparados nas universidades; tempo reduzido para aprendizado na obra; concentração em serviços de escritório; foco excessivo em prestação de contas e ajustes de planilha; peregrinação pelos órgãos da administração pública... De nada adiantará BIM, Lean, PBQPH e demais traquitanas, se a empresa e/ou profissional perdem o foco real do negócio: a qualidade técnica, a segurança e o desempenho da obra pela qual são pagos para executar.