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Evolução da arquitetura e dos materiais para cobertura de edificações

Publicado em: 01/04/2014

Ao estudar a história da arquitetura, é possível identificar que de uma forma ou de outra, a cobertura de edificações sempre esteve presente desde os primórdios da civilização, pois afinal de contas, a própria caverna (a habitação mais rudimentar e básica já conhecida) também apresenta uma característica de cobertura. Desta forma, é difícil precisar uma data exata de quando o elemento telha começou a ser usado e difundido ou, pelo menos, como este item começou a ser classificado e denominado como tal.

Os Romanos usaram ardósia e outras pedras naturais como elementos de cobertura, as quais podiam ser cortadas em finos pedaços a fim de serem utilizadas de forma conjugada e compor o telhado. Eles geralmente exploravam qualquer recurso natural disponível localmente e que fosse conveniente de se trabalhar. Eles eram habilidosos na manufatura de tais elementos os quais, assim como os tijolos, eram formados de argila e preparados em fornos.

Já no que diz respeito à utilização de metais como elemento de cobertura, uma das primeiras construções de que se tem registro é a Cúpula do Rochedo em Jerusalém (Israel). Esta obra, que data de 685 d.C. ~ 691 d.C. utilizou mais de 10.000 placas de ouro puro na cúpula. A Construção tem a forma octogonal e foi erigida durante o califado de Abd al-Malik com a intenção de transformar Jerusalém no centro religioso do Islamismo (em vez de Meca e Medina). Porém, mais de 400 anos depois, durante o domínio dos cruzados (1099 ~ 1187) a Cúpula do Rochedo foi transformada em igreja cristã.

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Outro material antigo também utilizado para coberturas é o sapé (ou palha). Sua maior desvantagem residia em sua elevada flamabilidade, motivo pelo qual parou de ser usado em cidades. Existem registros de que ocorreram alguns grandes incêndios em cidades que o utilizavam em grande escala. Alguns dos mais notáveis aconteceram na Inglaterra:

- Londres: nos anos de 1077, 1087, 1135 e 1161
- Canterbury: em 1161
- Winchester: em 1180

Após este período fortemente marcado por trágicos incêndios na Inglaterra durante parte dos séculos XI e XII, ao final dos anos 1100 o uso da ardósia foi resgatado na Europa, mas somente em regiões onde era naturalmente disponível (não havia sistema de transporte eficiente e devidamente estruturado para distribuição em massa de materiais de construção). No entanto, a ardósia era largamente utilizada em algumas cidades da Inglaterra. Outras pedras naturais eram usadas de forma similar como, por exemplo, pedra calcária e arenito. Enfim, cada região procurava aproveitar da melhor forma possível os recursos naturais de que dispunha.

A ardósia pôde ser cortada em pedaços de espessuras delgadas assim como os Romanos haviam procedido no passado, mas outros materiais deveriam ser usados em espessuras mais grossas e isto resultava em coberturas extremamente pesadas e, consequentemente, necessitavam de estruturas de suporte substancialmente mais robustas. O uso de peças irregulares de pedra resultava na necessidade de telhados com inclinações mais íngremes a fim de manter a estanqueidade. Desta forma, a mudança de sapé para ardósia ocasionou um reforço nas ripas, mas não mudou muito o formato dos telhados.

Telhas de argila e ardósia ofereciam a enorme vantagem de serem não-combustíveis, e isto deve ter sido visto como uma grande evolução tecnológica nas cidades, onde tantos incêndios desastrosos tinham ocorrido. Elas eram também muito mais duráveis do que o sapé ou madeira e isto teve consequências econômicas para o comprador e o construtor da época.

Passado um longo período após esta “redescoberta” da ardósia e da utilização de elementos não tão vulneráveis e perigosos como o sapé demonstrou ser, não foram encontrados registros de outros avanços significativos.

No entanto, durante o Renascimento (1420 ~ 1620), uma das obras mais marcantes construídas pelo homem foi a Catedral de Florença na Itália a qual ficou pronta em 1467 (cerca de 173 anos após seu início), onde a gigantesca cúpula da igreja é composta por fiadas completas de tijolos colocados como escamas de peixe e nervuras longitudinais.

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Outra obra marcante também deste mesmo período, que se destacou pela originalidade da cobertura e representou um grande avanço em termos estéticos e técnicos, foi o hospital medieval Hôtel-Dieu na cidade de Beaune na França, construído em 1452 sob a responsabilidade do arquiteto Jacques Wiscrère. Este hospital fora construído com a finalidade de socorrer os feridos na Guerra dos 100 Anos entre a França e a Inglaterra (entre 1337 a 1453). O que tornou esta obra um destaque todo especial foi justamente a configuração multicolorida de sua cobertura. Esta inovação estética representou uma quebra de paradigma e demonstrou uma enorme dose de inovação e visão por parte do arquiteto Wiscrère.

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Alguns anos mais tarde, outra obra de elevada importância histórica consistiu na construção do prédio da Universidade de Oxford na Inglaterra (obra de 1474). Esta foi a primeira universidade de todo o Reino Unido e foi criada pelo Rei Henrique II, na qual grande parte da cobertura é feita de cobre.

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Continuando no processo evolutivo das técnicas construtivas, encontramos uma das mais fabulosas obras já erguida pelo homem: o Taj Mahal, localizado na cidade de Agra na Índia e construído entre 1630 a 1653. Nesta obra, foram utilizadas somente pedras naturais (neste caso mármore) em todas as partes (coberturas, paredes, colunas etc.).

Os arquitetos responsáveis foram Mohammed Isa Afandi e Ustad Ahmed Lahori. E um detalhe interessante sobre esta construção é que, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, ele não é oficialmente considerado um palácio e nem uma mesquita. Ele é, na verdade, um mausoléu. Ele foi encomendado pelo Grande Mongol Shah Jahan em homenagem a sua amada esposa Arjmand-Banu-Begam, a qual havia falecido aos 38 anos de idade durante o parto de seu 14º filho.

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Agora, no que diz respeito à utilização de metal como elemento de cobertura, é difícil apontar uma data específica como sendo o marco inicial de sua utilização em grande escala. Fora a Cúpula do Rochedo em Jerusalém (Israel), não foi encontrada outra obra anterior que tenha lançado mão de materiais metálicos. Um dos metais comumente utilizado nesta época foi o chumbo, mas outras possibilidades foram eventualmente tentadas. O chumbo tinha a grande vantagem de ser maleável, facilmente conformado ou cortado no local da obra. Pode ser permanentemente unido através de solda sem a necessidade de temperaturas extremas e as juntas são totalmente estanques. Além disso, ele é extremamente durável e com reduzidas necessidades de manutenção ao longo de sua vida útil.

Suas duas grandes desvantagens são seu peso elevado e limitadas propriedades mecânicas. Em uma época em que os materiais de construção eram transportados, erguidos e fixados através de esforço humano, o peso excessivo do chumbo representava um grande desconforto. O chumbo foi usado como uma proteção de alta qualidade contra as intempéries além de ser durável, mas não era capaz de vencer grandes vãos devido à sua baixa resistência mecânica.

O cobre também ganhou uma aceitação bem gradual. Seu custo, no entanto, era muito elevado para tornar-se uma forma comum de material de cobertura, mas ele atingiu um limitado sucesso apesar de sua aparência atrativa e extrema durabilidade.

O advento da Revolução Industrial na Inglaterra durante a primeira metade do século XIX (1815 a 1870) provocou profundas alterações na metalurgia e, consequentemente, influenciou também a arquitetura e construção civil da época. O uso do ferro e do aço difundiu-se de tal forma que transformaram-se em importante materiais de construção.

Em função deste contexto histórico, desenvolveu-se uma tendência arquitetônica que ficou conhecida como Arquitetura do Ferro. No período compreendido entre 1840 e início da década de 1900 foram construídas diversas edificações com larga utilização de estruturas metálicas (Palácio de Cristal em Londres, 1851 | Torre Eiffel em Paris, 1889 | Edifício Fuller em New York, 1902 | Empire State Building em New York, 1933).

Não há registros precisos de quando o alumínio começou efetivamente a ser disponibilizado comercialmente como solução para cobertura, no entanto, a obra que é considerada mundialmente como sendo o marco inicial de sua aplicação é o domo da Igreja San Gioacchino em Roma na Itália que data de 1897 (projeto do arquiteto Lorenzo de Rossi).

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Já no Brasil, existem indícios de que ela começou a ser utilizada a partir de 1965 (este seria o marco da introdução do produto no país). Apenas 5 anos após esta data foi construído em São Paulo o Pavilhão de Exposições do Anhembi. Construído em tempo recorde de 18 meses, possui área de 67.600 m2 totalmente coberta com telhas de alumínio. Além da cobertura a telha foi utilizada também nos fechamentos laterais e a estrutura metálica espacial foi composta de tubos extrudados de alumínio. Ao todo foram consumidos cerca de 1.000 ton do metal.

Desde então, as construções com alumínio (seja na forma de revestimentos externos para fachadas, fechamentos laterais e/ou frontais e como elemento de cobertura) não pararam mais de evoluir e a relação de obras tanto no Brasil quanto no exterior é imensa.

Portanto, analisando todo este conceito histórico, é possível notar uma marca em comum ao longo de todas as tendências e escolas arquitetônicas: a experimentação.

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Desde os primórdios da civilização, quando o homem vivia em cavernas, até agora nos primeiros anos do século XXI quando muitos já têm acesso a morar e/ou trabalhar em edificações chamadas de “inteligentes” (dotadas de todos os recursos tecnológicos mais avançados disponíveis no momento), o que diferencia os dois extremos são justamente os recursos disponíveis para realizar as experimentações.

Há milênios, o homem teve de fazer as experimentações e testá-las sob condições reais de uso, ou seja, morando nelas. As consequências, como pudemos observar, foram as mais diversas, passando desde o desconforto e dificuldade de manuseio e transporte de materiais extremamente pesados; passando pelo infortúnio de incêndios trágicos e até mesmo desfrutando de certo grau de conforto ambiental.

Atualmente, porém, as experimentações continuam a existir, só que somos dotados de ferramentas extremamente confiáveis, versáteis e convenientes para simular seu desempenho antes mesmo de construir a edificação.

Sendo assim, os materiais e técnicas conhecidos atualmente, são frutos do pioneirismo, coragem e visão de todos estes artesãos (como os arquitetos eram considerados no Egito), mestres, construtores, engenheiros e até mesmo dos homens das cavernas, que foram desenvolvendo todas estas técnicas ao longo dos anos.

Referências
Bellini, Antonio. A história do alumínio no Brasil. Antonio Bellini Editora & Cultura, 2000
Coates, David T. Roofs and roofing: design and specification handbook. Whittles publishing, 1993
Freire, José de Mendonça. Materiais de construção mecânica. LTC, 1983
Glancey, Jonathan. A história da arquitetura. Loyola, 2001
Gympel, Jan. História da arquitectura: da antiguidade aos nossos dias. Könemann Verlagssgesellschaft mbH, 1996
Hugues, Wilquin. Aluminium architecture: construction and details. Birkhäuser V.A. Publishers for Architecture, 1997
Reichold, Klaus; Graf, Bernhard. Buildings that changed the world. Prestel Publishing, 1999