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Projetos exploram soluções para atender novas demandas de empresas

Espaços compartilhados sem postos fixos de trabalho integram equipes, atendem necessidade de mobilidade dos funcionários e proporcionam redução de custos

Publicado em: 23/05/2016Atualizado em: 24/05/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Foto: Maíra Acayaba, Projeto: Dentsu Aegis Network – AUM Arquitetos

Mudanças na rotina de trabalho impactam diretamente o conceito de ocupação de projetos corporativos. Como nem sempre as pessoas estão presentes nos escritórios, perde-se a necessidade de dedicar uma mesa para cada funcionário e passa-se a privilegiar estações compartilhadas.

Além disso, a multidisciplinaridade de determinadas empresas requer maior interação entre equipes, o que incentiva a projeção de ambientes integrados, próprios do conceito do open space. No Brasil, empresas estrangeiras como LinkedIn, KPMG, Dentsu Aegis Network, entre outras, incorporam tais soluções em seus projetos.

Segundo o arquiteto Antonio Mantovani Neto, do escritório Dante Della Manna Arquitetura, “projetar escritórios abertos com espaços colaborativos tem sido uma grande tendência, mas muitas vezes de uso equivocado”. Para ele, o projeto precisa antes de tudo se basear na tipologia de trabalho da empresa para depois analisar se os conceitos terão função.

Projetar escritórios abertos com espaços colaborativos tem sido uma grande tendência, mas muitas vezes de uso equivocado
Antonio Mantovani Neto

INDICADORES E SOLUÇÕES

A dinâmica de trabalho é quem diz se há ou não demanda para projeção de espaços colaborativos. De acordo com a arquiteta Claudia Andrade, da Andrade Azevedo Arquitetura Corporativa, uma taxa de vacância próxima aos 20% dentro de uma organização representa um índice “bastante positivo” para implantação das áreas compartilhadas no projeto.

“Muitas pessoas trabalham em ambientes de reunião, estão em atividades externas, de férias ou de licença. Então, não é preciso desenhar um espaço para acomodar 100% desse headcount”, explica Sérgio Athié, arquiteto do athié wohnrath.

Dessa forma, os projetos deixam de lado os postos fixos de trabalho e adotam soluções mais coletivas. “São mesas compartilhadas, onde você chega, se conecta num espaço que pode ou não ser dentro da sua área de negócio”, descreve Athié. “Isso é funcional em empresas com grande interação entre áreas e necessidade real de colaboração face to face”, reitera Mantovani.

Em casos assim, também são previstas instalações para armazenar pertences pessoais e do trabalho. “São lockers dispostos numa área adjacente ao ambiente de trabalho, mas não ao longo do ambiente de trabalho, porque um dos maiores impeditivos da produtividade são pontos de distração e excessos de ruído”, avalia Andrade.

Divisórias baixas, vidros e vegetações podem ser utilizadas para separar os ambientes de forma visual ou garantir privacidade sonora.

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Foto: Pregnolato & Kusuki Estúdio Fotográfico,
Projeto: KPMG – athié wohnrath

ZONEAMENTO E RECOMENDAÇÕES

No momento de projetar, o arquiteto dispõe os ambientes com base nas necessidades organizacionais, de forma que o layout suporte a rotina de trabalho. “É possível passar um dia numa sala de reunião fazendo trabalho de grupo, outro dia na estação e outro momento em uma parte mais fechada para se concentrar. Não se tem mais rotina”, justifica Marcos Azevedo, também arquiteto da Andrade Azevedo.

O programa de projetos com espaços compartilhados é semelhante ao de projetos corporativos tradicionais, contando com salas de reunião, espaços para recepção de visitas, descompressão, cafeterias e áreas técnicas correspondentes ao universo mercadológico da empresa. A diferença é no dimensionamento desses ambientes. “Deve-se garantir que o colaborador, ao chegar na empresa, tenha a solicitação de trabalho disponível, apesar de não ser fixa”, aponta Andrade.

A arquiteta conta que esse “zoneamento” carrega políticas de governança, proporcionando uma mudança cultural na empresa. “Por isso que a gente trabalha muito próximo do recursos humanos e da área de tecnologia, pois a implantação tem de ser adequada para permitir que as pessoas possam trabalhar com mobilidade”, revela.

Outra recomendação é que o projeto ofereça uma flexibilidade ao espaço capaz de suportar o crescimento da empresa ao longo de cinco ou dez anos, atendendo às diferentes dinâmicas de trabalho. “O projeto não pode envelhecer em questão de dois anos”, reforça Azevedo. “A pior coisa é entrar numa empresa e o layout estar velho porque foi feito sem considerar o atual ambiente de trabalho”, completa.

Muitas pessoas trabalham em ambientes de reunião, estão em atividades externas, de férias ou de licença. Então, não é preciso desenhar um espaço para acomodar 100% desse headcount
Sérgio Athié

PRIVACIDADE EM JOGO

A privacidade é uma questão frágil em projetos que oferecem postos e espaços de trabalho compartilhados. A escritora estadunidense Susan Cain defende no livro “O poder dos quietos” que esse tipo de projeto não é compatível com pessoas de perfil introvertido, sendo prejudicial para a produtividade da empresa.

Para Mantovani, essa crítica é uma meia verdade, pois é direcionada às empresas norte-americanas, “onde a cultura do extrovertido é sempre idolatrada”. O arquiteto diz que introvertidos precisam de espaços mais privativos para desenvolver suas funções, mas que isso é sistematicamente repelido lá.

“Um estudo profundo da empresa tende a balizar essas questões, propiciando áreas de colaboração e áreas intimistas mais privadas, onde trabalhos de concentração podem ser feitos”, contesta.

VANTAGENS PARA EMPRESAS

Projetos corporativos com áreas compartilhadas, quando feitos para corporações com grande multidisciplinaridade, podem “enriquecer e otimizar as relações profissionais para desenvolvimento do trabalho”, diz Mantovani.

A pior coisa é entrar numa empresa e o layout estar velho porque foi feito sem considerar o atual ambiente de trabalho
Marcos Azevedo

Além disso, como o projeto dispensa paredes e sistemas exclusivos para ambientes – ar-condicionado, por exemplo –, a tendência é que ele seja mais econômico. No entanto, devido ao fato de os espaços serem amplos e abrigarem uma quantidade elevada de pessoas, o investimento em acústica pode acabar balanceando os gastos, em comparação com um projeto tradicional. “A economia é de 10% porque se gasta muito mais com acústica. Se não fosse isso, ela chegaria a uns 15%”, calcula Mantovani.

De acordo com a complexidade, pode ser necessário o apoio de consultores e escritórios especializados para o projeto de acústica. Em geral, forros e carpetes costumam resolver a situação.

Além da obra, a economia também reflete no aluguel, pois escritórios com áreas compartilhadas permitem que as empresas busquem edifícios de menor metro quadro. “É uma maneira de otimizar as áreas de locação com muito mais eficiência, ocupando o espaço que é realmente preciso” alega Athié.

Outro impacto que o projeto proporciona é em relação à imagem da empresa. Segundo Athié, esses projetos favorecem uma comunicação que estimula maior competitividade dentro do ambiente de trabalho. “O mercado é muito competitivo para os bons talentos, e o espaço é um fator primordial para atração e retenção dessas pessoas”, afirma.

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Colaboração técnica

Antonio Mantovani Neto – Arquiteto responsável pelo atendimento aos clientes locais e internacionais, sendo também gerenciador dos times de desenvolvimento de projeto e implantação da Dante Della Manna Arquitetura.
Claudia Andrade – Arquiteta formada em 1983 pela FAU Bennett (RJ). É doutora pela FAU-USP, participante do IBPE – International Building Performance Evaluation Project –, membro do Conselho Editorial da Revista Facilities da Inglaterra e conselheira da ABRAFAC – Associação Brasileira de Facilities. Integra a Andrade Azevedo Arquitetura Corporativa desde 1994.
Marcos Azevedo – Formado em 1982 pela FAU Braz Cubas. Foi sócio da BMS – Building Management Services – até 1991, e desde então lidera a Andrade Azevedo Arquitetura Corporativa.
Sérgio Athié – Arquiteto sócio-fundador da athié wohnrath.