menu-iconPortal AECweb

Construção modular é versátil e atende necessidades no curto prazo

Montada rapidamente, a solução pode ser usada em várias regiões, é isolada termicamente e ainda tem bom custo-benefício

Publicado em: 26/07/2013

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

De uso versátil e facilmente transportada de uma área para outra, a construção modular é uma solução industrializada, praticamente toda moldada na fábrica. Sua principal qualidade está no tempo reduzido de produção e implantação. A arquiteta Carla Deboni, diretora da Siscobras - Sistemas Construtivos -, aponta a preservação dos recursos naturais como característica intrínseca desse sistema construtivo: “Quando falamos em produtos industrializados, ressaltamos também a questão da sustentabilidade agregada e a exploração consciente das matérias-primas”, afirma.

O custo da construção modular será maior ou menor, dependendo do caso. “É difícil comparar o custo da solução com o de outros métodos construtivos. Se formos levar em consideração o gasto, a demora e os prejuízos indiretos de reconstruir uma área, a construção modulada se torna extremamente viável e mais barata. Um exemplo é o caso da RBS TV (RS), que mantinha estúdio no litoral do estado para acompanhar o veraneio gaúcho. Desde o ano passado a emissora aderiu à construção modular, criando um estúdio móvel que permite a mudança de cidade conforme necessário. A estrutura já esteve nos municípios de Capão da Canoa, Santa Maria, Lages e Canela”, diz.

Apesar de todas as vantagens, a modalidade é pouco explorada no Brasil. “No Rio de Janeiro, o governo está usando esse sistema nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) das favelas, pois, em função das rápidas ocupações, o Estado não tem tempo de edificar as bases pelo método convencional. Além disso, temos conhecimento da solução funcionando como postos de saúde, ampliações de escolas e na construção de presídios”, explica Carla.

Pela rapidez na montagem, a construção modular é uma alternativa para situações que necessitam de uma estrutura montada em um curto prazo, como em enchentes ou deslizamentos que colocam em risco a população. Porém, nestes casos o Brasil ainda não adota o sistema construtivo modular como uma opção. “Seria o ideal para solucionar os problemas decorrentes de catástrofes ambientais. No exterior, essa prática é real e proporciona grande sucesso na reconstrução de áreas atingidas, como no Japão após os terremotos de 2011”, menciona.

A razão, segundo a arquiteta, está na burocracia que torna a compra dos módulos demorada. “Quando o sistema burocrático do país é lento, não combina com a construção rápida. Outra questão é a cultural, ou seja, a falta de conhecimento dos usuários e dos próprios técnicos brasileiros. O conjunto destes fatores prejudica a disseminação da construção modular no Brasil, ao contrário do que é praticado em boa parte do mundo”, comenta a profissional. Para ela, a Copa do Mundo e as Olimpíadas são grandes oportunidades para consagrar este método construtivo no território nacional. “A maior vantagem na utilização de módulos modulares durante os grandes eventos esportivos é a possibilidade de reutilizá-los depois como equipamentos públicos permanentes e disponíveis à sociedade”, opina.

Exemplo que vem de fora

Diferentemente do Brasil, na Europa é comum optar por construções modulares em situações de risco, conforme afirma o professor da Università degli Studi di Firenze, Roberto Bologna. “A utilização destes sistemas em casos de emergência é bastante difundida. Deve-se lembrar que os países europeus estão mais expostos a situações de risco, especialmente sísmico, principalmente as nações mediterrâneas – em primeiro lugar a Itália e em seguida a Grécia e a Turquia. Entretanto, a oferta deste tipo de sistema é circunscrita a poucos fabricantes”, explica.

Durante a tragédia, as construções modulares são empregadas como posto médico, de distribuição de alimentos e armazém, entre outros equipamentos. Passado o período mais conturbado, as estruturas são reutilizadas em habitações para quem perdeu a residência fixa durante a catástrofe. Podem funcionar também como sala de aula, escritórios ou outros serviços sociais, uma vez que se trata de um edifício construído com componentes sem uma configuração rígida. “Outra vantagem é que o sistema é leve e pode ser colocado sobre qualquer piso. Pode ser um terreno já preparado, tal como um estacionamento, ou mesmo no solo natural suficientemente compactado, no qual o módulo é apoiado em placas e pilastras com altura ajustável. No caso de um terreno natural que não esteja previamente preparado, pode ser utilizada uma fundação do tipo ‘parafuso’, que permite diferentes alturas e espessuras, dependendo das necessidades”, explana o professor.

Isoladas termicamente

O clima da região não interfere na escolha da solução, já que a modalidade é composta por um sistema de revestimento externo para as paredes e o piso, que compreende uma camada de isolamento térmico, cuja natureza do material e a espessura são definidas caso a caso. Bologna comenta que as características dos edifícios modulares dizem respeito, em primeiro lugar, às regras de coordenação dimensional e à correta especificação das juntas entre os componentes do sistema. “Para realizar um sistema construtivo temporário, a matéria-prima deve ser compatível com aquelas de fácil manipulação e transporte. Os materiais também devem ser leves, por exemplo, madeira, painéis ou perfis de aço ou de alumínio, porém, sem excluir outras alternativas, tais como concreto leve ou outros materiais ‘pesados’, que possam ser facilmente removíveis e montados a seco”, fala.

É BOM SABER

Não é necessária mão de obra especializada, pois, o sistema construtivo industrializado com madeira é comum e difundido. “Do ponto de vista tecnológico, a construção modular é representada como opção construtiva com componentes de madeira, porém, o conceito interessante é que se propõe um modelo tipológico flexível que também pode ser configurado por meio de outras tecnologias disponíveis”, finaliza Bologna

COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA

Carla Deboni – Arquiteta e urbanista. Ocupa o cargo de diretora na empresa Siscobras Sistemas Construtivos do Brasil S/A. Tem cinco anos de experiência em projetos e construção industrializada modular. Recebeu Menção Honrosa pelo projeto Estação Mercado - Metrô de Porto Alegre no 21º Prêmio Opera Prima 2009.

Roberto Bologna – Arquiteto e exerce a função de professor de Tecnologia da Arquitetura e do curso de Materiais e Elementos Construtivos na Università degli Studi di Firenze, onde também é responsável pelo Laboratório de Tecnologia da Arquitetura. Ocupa o cargo de presidente do curso de Láurea Magistral em Arquitetura. De 2006 a 2012 foi diretor do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Design “Pierluigi Spadolini” na universidade italiana de Firenze.