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Biomassa poderá ser usada na fabricação de cimento

De acordo com projeto encabeçado pela Embrapa e InterCement, as plantas forrageiras são capazes de substituir até 10% dos materiais usados na geração de energia

Publicado em: 16/01/2017

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A produção de cimento utiliza combustíveis fósseis, em grande escala, para geração de energia. Com o objetivo de reduzir a dependência de fontes não renováveis, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a InterCement, indústria cimenteira, estão realizando trabalho em conjunto para desenvolver biomassa a partir de plantas forrageiras (grama). “A meta estabelecida é de que a substituição chegue a 10%”, afirma o engenheiro Marcelo Ayres Carvalho, pesquisador da Embrapa.

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Central de biomassa (Rob kemp/ Shutterstock.com)

BENEFÍCIOS

Além de reduzir o consumo de petróleo e diminuir a emissão de poluentes, a iniciativa gera uma série de outros benefícios. Na questão financeira, por exemplo, o uso da biomassa tem potencial para resultar em custos de produção menores. “Algumas indústrias estão longe do local onde é preparado o coque – subproduto do petróleo necessário na fabricação do cimento. Com isso, são necessários investimentos em logística para o transporte do material. Por outro lado, as forrageiras podem ser cultivadas perto das empresas”, explica o profissional.

Mesmo o barril de petróleo sendo comercializado atualmente a preços mais baixos, a biomassa continua sendo bastante competitiva. “Em um cenário em que o valor do combustível fóssil volte a subir, a biomassa teria vantagem ainda maior em relação ao coque”, afirma Carvalho. Na indústria do cimento, um dos itens com maior peso é o combustível. Ao ser substituído, o cimento poderá ser vendido a preços reduzidos.

Em um cenário em que o valor do combustível fóssil volte a subir, a biomassa teria vantagem ainda maior em relação ao coque
Marcelo Ayres Carvalho

As forrageiras são plantas perenes, ou seja, depois de cultivadas é possível colher a produção por até dez anos. “Essa é uma das principais vantagens em optar por esse tipo de vegetação para geração da biomassa, se comparada com as demais alternativas”, avalia o engenheiro. O plantio da grama gera ainda emprego e renda para as comunidades localizadas ao redor da indústria de cimento que aderir ao aproveitamento da biomassa.

Os benefícios podem se estender às indústrias de todo o país se for considerada somente a questão agrícola. “A Embrapa tem um grande acervo de pesquisas sobre esse tipo de vegetação. Afinal, já estavam sendo estudadas há bastante tempo para outras finalidades, como nos pastos para criação bovina”, fala o engenheiro. Para ter a produção de biomassa acontecendo em todo o território nacional, seria necessário somente respeitar as particularidades de cada região. “No sul, por exemplo, teríamos espécies adaptadas às condições climáticas e de solo diferentes daquelas que estamos utilizando aqui em Goiás”, complementa.

COGERAÇÃO DE ENERGIA

A indústria do cimento já tem incorporado outros tipos de combustíveis renováveis em seu processo produtivo. São utilizadas soluções como casca de arroz e moinha de carvão. “Essa iniciativa é chamada de cogeração de energia”, diz o profissional. As altas temperaturas que os fornos dessas fábricas atingem ajudam também a eliminar subprodutos ou resíduos de outras indústrias, evitando que esses materiais sejam enviados para aterros sanitários.

“Na planta que a InterCement tem no município de Cezarina (GO), pneus sem condições de reaproveitamento são triturados e usados como parte do combustível. Próximo dali, existe um polo farmacêutico, e restos de embalagens e cartelas vazias de medicamentos acabam sendo descartadas nos fornos”, detalha Carvalho. Antes do envio para as cimenteiras, os resíduos são recebidos por indústrias especializadas, que os preparam para serem queimados.

O PROJETO

Em 2014, a InterCement procurou a Embrapa com o interesse de incorporar outras fontes de energia em seu processamento nas plantas de cimento. “O projeto é composto por vários subprojetos, sendo que um deles é o desenvolvimento de ações na unidade de Cezarina, onde foram estabelecidas áreas piloto para avaliar dois tipos de biomassa que poderiam substituir parte do combustível utilizado na geração de energia”, afirma o engenheiro.

Realizamos análises físico-químicas da vegetação para conhecermos as características relacionadas com a geração de energia. Por fim, constatamos que parte da biomassa analisada poderia ser incorporada ao processo de produção do cimento
Marcelo Ayres Carvalho

Foi usada uma área de, aproximadamente, 25 hectares, onde os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento de duas espécies de forrageiras. Todas as análises e dados coletados serviram para realização de estudos econômicos e para determinar os potenciais de produção. “Realizamos análises físico-químicas da vegetação para conhecermos as características relacionadas com a geração de energia. Por fim, constatamos que parte da biomassa analisada poderia ser incorporada ao processo de produção do cimento”, explica o profissional.

Em toda a indústria do cimento, os processos estão estabelecidos, e o próprio funcionamento das unidades fabris está preparado e alinhado para trabalhar com o coque. “Até por esse motivo, o objetivo inicial do projeto não é substituir completamente o combustível fóssil pela biomassa. Uma mudança tão radical iria demandar muitos ajustes na forma como as coisas estão organizadas”, ressalta o engenheiro.

Os resultados obtidos até agora indicam que o aproveitamento da biomassa não causa impactos no processo produtivo, na qualidade ou quantidade do cimento. “O procedimento não ficou nem menos nem mais eficiente. A expectativa é que os testes durem mais um ano, mas os dados já coletados são bastante animadores”, finaliza Carvalho.

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Colaboração técnica

Marcelo Ayres Carvalho – Engenheiro Agrônomo pela Universidade de Brasília. Tem mestrado em Agronomia pela mesma instituição de ensino e o título de Ph.D. em Agronomy (Genética e Melhoramento de Plantas) pela University of Flórida. Em 1995, foi contratado como pesquisador da Embrapa Cerrados, cargo que ocupa até hoje. Coordenou 13 projetos de pesquisa, publicou 27 artigos em periódicos especializados e 96 trabalhos em anais de congressos, interagindo com 68 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos.