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Tudo o que você precisa saber sobre paredes de concreto in loco

Publicado em: 09/09/2019

Cada vez mais a construção civil busca meios de industrializar seus processos, mudar e procurar alternativas construtivas diferentes – tudo com o intuito de melhorar uma única coisa: o CONTROLE.

Num setor em que a cultura do controle ainda é extremamente difícil e pouco assertiva, mudar o "jeito" que se constrói – tentando industrializar ao máximo seus processos – ajuda a identificar onde estão as falhas, sejam elas de definição de escopo, custo, tempo etc.

Se você tem mais controle, você sabe exatamente quanto gasta, quanto tempo dura e qual a qualidade. Assim, além de melhorar a margem de lucro, você pode oferecer um produto melhor aos seus clientes.

Um dos processos construtivos que tem essa grande característica chama-se: paredes de concreto moldadas in loco. De maneira simples, o sistema consiste em apresentar formas que perfazem todas as paredes e as lajes (se for o caso) de uma ou mais unidades habitacionais, que depois são concretadas de uma só vez (monoliticamente), não existindo vigas ou pilares.

O "aparelho" todo de lajes e paredes forma uma única grande peça estrutural. O passo a passo seria: a montagem da armadura (em sua grande maioria composta por telas soldadas com reforços estruturais nos vãos e respaldo), a montagem das instalações embutidas (elétrica e hidráulica), a colocação dos espaçadores, a montagem da forma e a concretagem.

Mas o que isso tem a ver com industrialização?

Imagine o sistema tradicional em que você precisa controlar argamassa de assentamento dos blocos e, por sua vez, cimento, areia, cal e água. Depois, controla o assentamento de blocos cerâmicos, bem como sua mão de obra e o desperdício. A mesma coisa para o chapisco, o emboço, o reboco, as peças estruturais, o pilar, a viga e as laje, as instalações elétricas e hidráulicas embutidas e, ainda, a logística de tudo isso no canteiro. Se for edificação vertical, maior ainda será a preocupação com a logística.

No sistema paredes de concreto você diminui drasticamente a quantidade de itens a serem controlados, pois praticamente só há a montagem e desmontagem da forma, a armadura, as instalações e a concretagem, deixando o processo muito bem industrializado, aumentando o controle e melhorando a assertividade do resultado.

As paredes de concreto moldadas in loco não são exatamente uma novidade. Há exemplos, como em Brasília, com muitas paredes de concreto – mesmo sendo uma cidade construída no final da década de 50. O sistema ganhou grande peso na construção civil brasileira nos últimos anos, com o grande impulso dos órgãos financiadores para projetos habitacionais em larga escala.

NBR 16055

Grandes construtoras começaram a migrar para o método, pois há um vasto ganho principalmente de produtividade, o que exigiu maior necessidade de atenção do setor. Assim, em maio de 2012, a ABNT lançou a NBR 16055 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos.

A norma não estabelece os limites de pavimentos, mas regulamenta e consolida a utilização do método construtivo no Brasil – principalmente nos quesitos de conforto térmico, acústico, estrutural.

A evolução do mercado

O mercado de produtos específicos para paredes de concreto tem evoluído bastante. Hoje temos uma grande variedade de formas no mercado, das mais diversas tipologias, mas em sua grande maioria são formas de alumínio ou mistas.

As mistas são constituídas de madeira com travamento metálico; as formas de plástico também possuem travamentos metálicos e assim por diante. Existem, também, todos os periféricos, como caixinhas de energia, espaçadores e sistemas hidráulicos próprios para o sistema construtivo.

Sem dúvida o grande empecilho para a adoção do método era o custo, principalmente das formas, de modo que a viabilidade do sistema só se dava em muitas unidades iguais. Mas com a concorrência e o mercado em crise como está hoje, existem algumas empresas que alugam o sistema de formas adequado para qualquer necessidade por períodos menores, o que faz com que a viabilidade também seja viável para pequenas quantidades de unidades habitacionais.

Saiba mais

Um grande cuidado que se deve ter no sistema construtivo é com o concreto, pois além de ser o maior insumo, exige cuidados especiais. Como a parede tem uma espessura relativamente pequena, em torno de 10 cm (na maioria das vezes) – e ainda temos a armadura de aço e as instalações embutidas –, fica difícil o adensamento do concreto por vibração. Assim se utiliza o concreto autoadensável, que tem como características principais o alto grau de trabalhabilidade e o autoadensamento sem prejudicar sua resistência.

Neste concreto, o slump tradicional é por volta de +/- 23 cm, ou seja, muito alto – exatamente para que o concreto preencha todos os vãos e consiga percorrer por debaixo das janelas, por exemplo. Então, para se chegar nessa trabalhabilidade, faz-se uso de aditivos plastificantes ou superplastificantes.

Um outro ponto a se destacar é que a granulometria máxima do agregado graúdo (brita) é por volta de 10 mm ou a chamada "brita 0", pois assim o concreto consegue chegar a pontos mais difíceis sem causar as tão temidas "bicheiras".

Na maioria desses concretos também existe a adição de fibra de polipropileno, que ajuda na retração do concreto, visto que sua área de contato com o sol é muito grande.

Vantagens e perspectivas

O grande trunfo do sistema construtivo é a produtividade, sem a necessidade de grandes resistências para desforma. Devido a esse concreto, em 12 horas já é possível fazer a desforma e começar a montar a forma na próxima unidade habitacional – dependendo do projeto, mas na maioria das vezes (em projetos de unidades com no máximo 60 m²) a produção é de uma unidade habitacional por dia com um jogo de forma e uma equipe de aproximadamente 8 montadores.

Uma casa por dia é uma altíssima produtividade. Sem contar os outros benefícios, como redução drástica da quantidade de insumos e, consequentemente, geração menor de resíduos, redução do prazo global e diminuição dos custos fixos do canteiro.

De maneira geral, para uma mínima viabilidade (acima de 20 unidades), o sistema tem se tornado mais viável do que o sistema tradicional na comparação direta de custos. Quando se agrega os outros benefícios, como produtividade e resíduos, a economia é grande.

Grandes construtoras do mercado têm migrado seus sistemas construtivos para este, simplesmente por todos os itens aqui mencionados. O aumento da produtividade e do controle é um trunfo que poucas empresas têm. É claro que todo sistema novo, para ser implantado, passa por inúmeras dificuldades, mas isso tem se mostrado irrelevante aos ganhos apresentados.