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Painéis MDF ou MDP? Qual a diferença?

Maria José de Andrade Casimiro Miranda, Takashi Yojo, Cassiano Oliveira de Souza – Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)

Publicado em: 02/06/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Coordenação técnica: Adriana Camargo de Brito
Comitê de revisão técnica: Adriana Camargo de Brito, Cláudio Vicente Mitidieri Filho, José Maria de Camargo Barros, Luciana Oliveira e Maria Akutsu
Apoio editorial: Cozza Comunicação

foto de vários painéis de MDF
Fonte: Shutterstock

02/06/2022 | 15h45 - Esta é uma questão que frequentemente aparece: MDF ou MDP? O que são? Quais as diferenças entre eles e quais usos são indicados? Neste artigo, serão dadas informações sobre cada um destes produtos e suas características de maneira a auxiliar o usuário a escolher a melhor alternativa para o uso que pretende fazer.

Os painéis de madeira surgiram da necessidade de amenizar as variações dimensionais da madeira maciça, diminuir seu peso e custo. Adicionalmente, suprem uma necessidade reconhecida no uso da madeira serrada e ampliam a sua superfície útil, através da expansão de suas dimensões – largura, espessura e comprimento – para, assim, otimizar a sua aplicação [1].

Os painéis à base de madeira são produtos que utilizam como matéria-prima pinus e eucalipto, madeiras provenientes de reflorestamento ou florestas plantadas, que se caracterizam por apresentar rápido crescimento, homogeneidade de material e abastecimento. Há uma infinidade de tipos e qualidades e vem sendo introduzidos no mercado com rapidez.

Dentre estes painéis, pode-se citar: os compensados laminados, sarrafeados e multissarrafeados; as chapas de fibra: chapa dura, MDF – Medium Density Fiberboard; chapas de partículas: MDP – Medium Density Particleboard e OSB – painéis de partículas orientadas. Também pode-se citar a madeira estrutural composta, conhecida como madeira engenheirada, incluindo vários produtos. Pode compor também este grupo a madeira laminada e colada, na qual as tábuas são dispostas e coladas, com as suas fibras na mesma direção, ampliando o comprimento ou a espessura (glulam). Vigas laminadas e coladas, fabricadas com madeiras de reflorestamento – pinus e eucalipto – preservadas contra o ataque de insetos e fungos, além de protegidas contra fogo e umidade, são um produto já encontrado no setor da construção civil no Brasil [1].

O desenvolvimento tecnológico verificado no setor dos painéis à base de madeira tem ocasionado o aparecimento de novos produtos no mercado internacional e nacional, que vêm preencher os requisitos de uma demanda cada vez mais especializada e exigente [1].

MDF OU MDP?

São produtos distintos, normatizados respectivamente pelas Normas ABNT NBR 15316 – Painéis de MDF Partes 1 e 2, Terminologia [2] e Requisitos e Métodos de Ensaio [3], respectivamente e ABNT NBR 14810 – Painéis de MDP Partes 1 e 2, Terminologia [4] e Requisitos e Métodos de Ensaio [5], respectivamente. Segundo as normas, o MDF é um painel produzido em processo seco com teor de umidade menor que 20% na linha de formação, sob a ação de calor e pressão com adição de adesivo sintético. MDP é um painel com densidade entre 551 kg/m3 e 750 kg/m3 constituído de partículas de madeira, aglutinadas com resina sintética termofixa, que se consolidam sob a ação conjunta de calor e pressão.

foto de vários painéis de MDF

Figura 1 – MDP e MDF. À esquerda: MDP; à direita MDF.

MDP (Medium Density Particleboard)

Estes painéis, já chamados de aglomerado, chapa de aglomerado, ou ainda chapa de partículas, são feitos de partículas de madeira ligadas por resina sintética e prensadas a alta temperatura e pressão, formando painéis.

O MDP é feito com madeira de reflorestamento – pinus ou eucalipto. Muito estável, já vem lixado e pode ser cortado em qualquer direção, o que permite seu melhor aproveitamento em marcenaria.

Existem vários tipos, dimensões e acabamentos. O MDP pode ter variação de densidade, de uma camada a outra, no sentido da espessura; as camadas externas são mais densas e compactas do que a camada interior. Pode ser também homogêneo, ou seja, com uma só camada de partículas, de densidade uniforme. Quanto à superfície, o MDP pode ser cru (somente lixado), aceitando vários tipos de revestimento, desde um simples verniz até uma lâmina de madeira decorativa, ou pode ter um revestimento melamínico (BP), com papel decorativo impregnado com resinas sintéticas, em uma ou nas duas faces, com variados padrões como madeiras, cores, tecidos, metais e pedras. As dimensões são padronizadas, mas variadas, com espessuras menores do que 3 mm a maiores que 40 mm.

foto de vários painéis de MDF

Figura 2 – Painéis MDP [6].

Cuidados e Usos

A umidade é fatal para o MDP, a menos que a resina usada tenha sido à prova d'água (resinas fenólicas): o produto não deve ser usado em situações ou locais onde vá ficar exposto à chuva e umidade em geral, ou mesmo ao sol ou calor intenso. Nestes casos, os painéis podem inchar e esfarelar.

As bordas são grosseiras, não aceitando usinagem, pregos ou parafusos; assim, necessitam acabamentos especiais, como encabeçamento, selantes, fitas de madeira, ou mesmo, plástico.

A furação também deve ser feita com brocas de aço rápido ou metal duro. Acessórios, como dobradiças – e somente as de embutir – e corrediças devem ser fixados com parafusos autoatarrachantes, de cabeça chata, ou parafusos especiais para MDP.

O MDP é especialmente indicado para a fabricação de móveis de escritório e dormitório, principalmente portas e frentes de gavetas. Pode ser usado também em cozinhas e banheiros, desde que devidamente protegido contra umidade. É especialmente adequado ao uso em armários e divisórias, mas pode também ser usado como tampos de mesa e balcões, desde que as bordas e cantos estejam protegidos.

MDF

MDF significa "Medium Density Fiberboard", ou seja, chapa de densidade média e é um produto totalmente diferente do MDP.

O MDF é produzido com fibras de madeiras de reflorestamento, principalmente pinus, prensadas com resina especial, sob a alta temperatura. Com densidade de 631 a 800 kg/m³, vide Tabela 1, estes painéis têm composição homogênea na superfície e na borda, são estáveis, têm superfície plana e lisa, adequadas a diferentes acabamentos como pintura, envernizamento, impressão, revestimento e outros [7].

Tabela 1 – Classificação de painéis de fibras de média densidade por densidade

foto de vários painéis de MDF

Fonte: NBR 15316:2019 – Parte 2.

Estes painéis, com espessuras podendo variar de valores menores que 6 mm a acima de 30 mm, e revestidos ou não com papel decorativo impregnado com resinas sintéticas, aglutinadas sob temperatura e pressão, possuem bordas densas e textura fina. Podem receber todo tipo de corte e usinagem de superfície e topo, como entalhe e torneamento.

foto de vários painéis de MDF

Figura 3 – Padrão de MDF inspirado em pedras [8].

Cuidados e Usos

Assim como o MDP, os painéis MDF não devem ser usados em situações ou lugares expostos à umidade e à ação direta do sol e calor. Os painéis podem ser usinados com máquinas, ferramentas, velocidades de corte e avanço normais, como na madeira sólida.

Os maiores cuidados dever ser tomados com pregos e parafusos: usar pregos só quando inevitável, e neste caso, não pregar a menos de 25 mm das bordas. Os parafusos devem ser aplicados com pré-furação e devem ser do tipo de haste reta. Não devem ser usados parafusos cônicos.

Os mesmos adesivos usados para madeira podem servir para os painéis MDF, sendo que as cavilhas usadas devem ser do tipo estriado.

Os painéis MDF são perfeitamente adequados ao uso em móveis, especialmente como portas e frentes de gavetas, gabinetes de todos os tipos, molduras e apliques, especialmente quando requeiram usinagem de borda ou entalhe. Na construção civil, o MDF pode ser usado como pisos, rodapés, venezianas internas, almofadas de portas, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Com várias possibilidades, de forma que os usuários tenham opções que atendam a sua demanda, no Brasil há várias empresas fabricantes [8]:

1) ARAUCO: possui duas categorias de painéis, os revestidos e os sem revestimento. A marca desenvolve e aplica tecnologias para maximizar a produtividade do recurso florestal e industrial;

2) BERNECK: seus produtos são os painéis de MDP e MDF revestidos nas duas faces com laminado melamínico, oferece padrões de cores e acabamentos, painéis de fibra de alta densidade, com média densidade, os de partículas com média densidade e os que são resistentes à umidade e cupins;

3) DURATEX: oferece ao mercado chapas de fibra Duratree e painéis de MDP, MDF e HDF, que são recicláveis e feitos com madeira certificada e proveniente de reflorestamento;

4) EUCATEX: painéis em MDF e MDP, chapas de fibras de madeira e chapas T-HDF. Os lançamentos mais recentes são os painéis em MDF Eucafibra e MDF Lacca Metalic;

5) FIBRAPLAC: painéis de MDF revestidos (100%) com vários padrões de cores e acabamentos;

6) FLORAPLAC: primeira indústria de MDF da região amazônica, os padrões da empresa são para HDF, MDF e Superflora com cinco linhas diferentes;

7) GREENPLAC: Especializada em painéis de madeira para o setor moveleiro, possuem várias linhas, entre elas, a Essenziale e a Toccare;

8) GUARARAPES: a empresa oferece ao mercado painéis de MDF e MDP, com ou sem revestimento, para uso geral, não estrutural, em condições secas ou úmidas;

9) PLACAS DO BRASIL: portfólio de produtos inclui painéis de MDF e MDP, com ou sem revestimento, para uso geral, não estrutural, em condições secas ou úmidas.

Tanto para o MDF ou para o MDP recomenda-se:
a)caso o uso seja em projeto estrutural, avaliar o tipo de carga que será aplicada para prevenir possibilidade de empenamento.
b)para os painéis que tenham revestimento somente em uma face, sugere-se revestir ou aplicar acabamento na face não revestida para evitar a movimentação descompensada das faces e assim prevenir empenamentos.
c)seguir as orientações do fabricante em relação ao manuseio, limpeza e descarte.

As informações fornecidas são resumidas e pretendem apenas cobrir questões básicas. Maiores detalhes podem ser conseguidos junto aos Departamentos Técnicos dos próprios fabricantes dos painéis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1] ZENID, G. J. (coord). Madeira Uso sustentável na construção civil. 2ª edição. São Paulo: IPT/SVMA. 2009. (Publicação IPT: 3010)
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15316-1:2014 – Painéis de fibras de média densidade – Parte 1: Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15316-2:2019 – Painéis de fibras de média densidade – Parte 2: Requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14810-1:2013 – Painéis de partículas de média densidade – Parte 1: Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14810-2:2018 – Painéis de partículas de média densidade – Parte 2: Requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
[6] EUCATEX. Morar Bem. Painéis de MDP Eucatex: Novo olhar para o varejo de móveis por meio da biofilia e da sustentabilidade. Disponível em: . Data de acesso: março 2022.
[7] INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - IPT / SECRETARIA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - SCTDE Madeiras: material para o design. São Paulo: IPT, 1997. 73p.
[8] DURATEX. Beleza e praticidade: os padrões de MDF inspirados nas pedras. Disponível em: < https://www.duratexmadeira.com.br/blog/padroes-de-mdf-inspirado-nas-pedras/>. Data de acesso: março 2022.
[9] INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÓVEIS – IBÁ. Painéis de madeira. Disponível em: . Data de acesso: março de 2022.

Colaboração técnica

 
Maria José de Andrade Casimiro Miranda — Mestrado em Ciência e Tecnologia de Madeiras pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) em 1997. Atualmente é Pesquisadora II do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos da Unidade de Negócios Habitação e Edificações do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Tecnologia de Produtos Florestais, com foco nas áreas de anatomia e identificação de madeiras, propriedades físicas e mecânicas de madeiras/aplicações bem como em secagem e processamento mecânico.
 
Takashi Yojo — Engenheiro Civil com graduação (1977), mestrado (1988) e doutorado (1993) pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Atua desde 1978 no IPT e tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em materiais e componentes de construção de madeira, atuando nos seguintes temas: análise estrutural, caracterização de madeira e produtos derivados, biodeteriorização, sanidade biológica, ensaios não destrutivos com foco no patrimônio histórico e risco de queda de árvores.
 
Cassiano Oliveira de Souza — Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Bacharel em Física (2007) e Engenheiro de Produção (2019). Possui experiência em ensaios laboratoriais físicos e mecânicos para caracterização da madeira, na inspeção e avaliação de estruturas de madeira de prédios de valor histórico e em sistemas construtivos em madeira.