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Desempenho de portas de madeira: como especificar

Thiago Salaberga Barreiros e Cláudio Vicente Mitidieri Filho, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT

Publicado em: 01/10/2020

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Coordenação técnica: Adriana Camargo de Brito
Comitê de revisão técnica: Adriana Camargo de Brito, Cláudio Vicente Mitidieri Filho, José Maria de Camargo Barros, Luciana Oliveira e Maria Akutsu
Apoio editorial: Cozza Comunicação

30/09/2020 | 14:00 - A norma NBR 15930 (ABNT, 2018) é detalhada e precisa ser lida com atenção de forma a especificar as portas de madeira para edificações da maneira correta. Entendidos, porém, os conceitos constantes dessa norma, a especificação é simples e rápida.

Os requisitos de desempenho para as portas de madeira são considerados de acordo com o local de uso, o padrão de aparência, a forma de realizar sua abertura e o tráfego de uso a que estará sujeita. Assim sendo, as portas de madeira devem ser especificadas como:

- PIM, ou PIM RU, ou PEM, ou PEM RU ou PXM;

- Pivotante, de giro, de correr ou vai e vem;

- Tráfego de uso moderado, regular, intenso, severo ou extremo.

Para as portas externas PXM, expostas ao ambiente exterior, deve-se também especificar o nível de desempenho em relação à permeabilidade ao ar e à carga de vento a que estará sujeita, considerando a altura de instalação, a região do país e o formato do edifício que será instalada, conforme a NBR 6123 (ABNT, 2013) para especificar a resistência às cargas uniformemente distribuídas.

As siglas que correspondem ao local de uso são:

PIM – Porta interna de madeira: porta com perfil de desempenho para uso em áreas secas, internas à edificação, como passagens, closets, dormitórios e salas internas;

PIM RU – Porta interna de madeira resistente à umidade: porta com perfil de desempenho para uso em ambientes internos à edificação, molháveis ou molhados, como banheiros, cozinhas e lavanderias;

PEM – Porta de entrada de madeira: porta com perfil de desempenho para uso entre a área privada e a comum de circulação de uma edificação, como entrada de unidades autônomas (entrada de apartamentos) e de compartimentos específicos de edifícios (entrada de quartos de hotéis), abrigadas da radiação solar direta, da chuva e do vento;

PEM RU – Porta de entrada de madeira resistente à umidade: porta com perfil de desempenho para uso como uma PEM, porém com especificações de resistência à umidade, como em varandas ou áreas de serviço, desde que protegidas da radiação solar direta, da chuva e do vento; e

PXM – Porta externa: porta com perfil de desempenho para uso em entradas de unidades ou de edificações, expostas à radiação solar direta, a chuvas e ao vento, como porta principal da unidade voltada para o exterior, ou porta de garagens, de varandas e áreas de serviço desprotegidas.

Esta “simples” especificação, pela sigla, já define o uso do produto e os requisitos que deverão ser atendidos. Como exemplo, apresentam-se na Tabela 1 os requisitos para os diversos perfis de desempenho mínimo, considerando o uso das portas de madeira em ocupações privadas, ou seja, não coletivas e nem públicas. No caso das ocupações coletivas e públicas as exigências são mais rigorosas, principalmente com relação ao tráfego de uso, e devem seguir as especificações do anexo K da NBR 15930-2 (ABNT, 2018)

Tabela 1 – Perfis de desempenho mínimo (classes) em função da localização e local de uso em ocupações privadas

poluição sonora nas cidades
Fonte: ABNT NBR 15930:2018
Nota 1: (*)Conforme Anexo L da referida norma, pois no seu corpo, tabela 31, consta como Classe 2.
Nota 2: Os números em cada linha refletem a classe a que a porta deve atender em cada requisito; quanto maior o numeral, mais rigoroso é o ensaio. Para a porta ser classificada como PIM, PIM RU, PEM, PEM RU ou PXM, ela deve atender a todos os requisitos com, no mínimo, a classe de intensidade que a respectiva coluna exige. Dessa forma, uma porta de entrada tem características para também ser usada internamente, pois o rigor dos ensaios da PEM é superior ao da PIM. Vale ressaltar que as portas resistentes à umidade (RU) e PXM devem atender também aos ensaios de resistência à ação da água e resistência ao calor e umidade, os quais avaliam a porta quando submetidas a uma lâmina de água na base de 2 cm de altura e à variações de temperatura (23° C e 50° C) e de umidade (50 % U. R. e 85 % U.R.).
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 1 - Ensaio de carregamento vertical
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 2 - Ensaio de torção estática
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 3 - Ensaio de corpo mole com medição da deformação residual
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 4 - Ensaio de fechamento com presença de obstrução, apresentando em detalhe o tarugo de obstrução
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 5 - Ensaio de fechamento brusco
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 6 - Ensaio de durabilidade, ciclos de abertura e fechamento
portas de madeira
Fonte: IPT, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos | Foto 7 - Ensaio de resistência à ação da água

O padrão de aparência é realizado avaliando os aspectos visuais da porta no recebimento e depois do acondicionamento úmido com 7 dias (portas sem acabamento: recebidas para ensaio no cru ou com fundo prime ) ou 21 dias (portas acabadas: recebidas para ensaio com o acabamento final, seja verniz, ou pintura ou revestimento), onde são avaliados os aspectos: sobreposição ou rugosidade de lâminas, quantidade de furos de insetos e fungos, nó solto ou quebrado, fissuras, descolamentos, furos de insetos, entre outros aspectos ligados à aparência. Neste requisito, a porta pode apresentar padrão A, B ou C, sendo o padrão A livre de defeitos.

Esta norma também estabelece níveis para cada tipo de porta, a saber: mínimo, intermediário e superior. Assim, uma porta pode ser especificada como PIM intermediária. Estes níveis são estabelecidos para designar a porta para um determinado tipo de uso da edificação: privado, coletivo ou público (quadro 1), pois entende-se que o tráfego de uso em cada tipo de edificação é diferente e, portanto, o produto deve ser mais ou menos reforçado.

Quadro 1 – Nível de desempenho das portas em relação ao uso 

portas de madeira
Nota: *As Classes 3 e 4, previstas na ABNT NBR 15930, podem ser adotadas apenas como fator de diferenciação de produtos.

Os diferentes tipos de uso da edificação foram relacionados ao tráfego e ao local de uso da porta, sendo explicado resumidamente no quadro 2.

Quadro 2- Relação entre tráfego de uso, ciclos e uso da porta 

portas de madeira
Nota: *Os esforços de manuseio são mantidos

Essa classificação foi baseada em premissas de uso, considerando a quantidade prevista de vezes que a porta será acionada ao longo de sua vida útil de projeto, a periodicidade prevista de inspeção do funcionamento da porta e a realização de serviços previstos de manutenção preventiva e corretiva (manutenibilidade).

No ensaio de ciclos de abertura e fechamento, em laboratório, são realizadas medições dos esforços de manuseio, ou seja: da força necessária para abrir e fechar a folha de porta, segurando-a pela maçaneta; da força necessária para abrir o trinco da fechadura, utilizando a maçaneta; e da força necessária para trancar e destrancar a porta com a lingueta, utilizando a chave, antes, durante e após os ciclos de abertura e fechamento.

A NBR 15930 (ABNT, 2018) prescreve algumas informações do produto para o seu bom funcionamento e que devem ser consideradas no projeto da porta intrinsicamente ao perfil de desempenho e dimensões, tais como: distâncias entre folha e marco; distância entre base da folha e piso/soleira em portas instaladas em locais secos e locais molhados/molháveis; dimensões do vão; quantidade de dobradiças; quantidade e tipo de parafusos; dimensões da fechadura; etc.

Além dessas especificações, para a porta externa (PXM) exposta, deve-se também especificar a carga de vento a que estará sujeita para avaliar a resistência à carga uniformemente distribuída e o nível de permeabilidade ao ar (mínimo, intermediário e superior), aspecto cada vez mais importante para regiões com temperaturas desconfortáveis para facilitar o condicionamento da temperatura em ambientes fechados.

Dessa forma, para especificar uma porta de madeira deve-se especificar o seu perfil de desempenho em função do local de uso: PIM, PIM RU, PEM, PEM RU, PXM; tipo de movimento da folha: giro, correr, pivotante ou vai e vem; o padrão de aparência: A, B ou C; o tráfego a que estará sujeita: moderado, regular, intenso, severo ou extremo; as dimensões da folha: altura e largura; o acabamento; e o sentido de abertura. No caso de uma PXM, a carga de vento e o nível de permeabilidade ao ar também deverão ser especificados.

Colaboração técnica

Thiago Salaberga Barreiros – arquiteto, mestre pelo Programa de Mestrado Profissional em Habitação do IPT, pesquisador do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT, secretário da CE-ABNT Portas de Madeira para Edificações .
Cláudio Vicente Mitidieri Filho – engenheiro civil, doutor em Engenharia de Construção Civil e Urbana pela Escola Politécnica da USP, pesquisador do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT e professor do Programa de Mestrado Profissional em Habitação do IPT.