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Eduardo Toledo analisa o estágio do BIM na construção civil

Professor da Poli-USP destaca tendências, fala da evolução da tecnologia no Brasil e analisa industrialização e sustentabilidade. Assista!

Publicado em: 26/03/2024

Texto: Eric Cozza

O professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Eduardo Toledo, agora é membro do Conselho Editorial da AEC Academy, iniciativa de fomento à educação continuada e treinamento na construção civil do Portal AECweb.

Nesta entrevista, o docente da USP fala sobre o patamar da adoção do BIM nas empresas brasileiras e a relevância do assunto para a digitalização do setor. Aponta também a relevância da industrialização e da sustentabilidade como vertentes estratégicas e defende uma adoção ampla da tecnologia da informação na cadeia produtiva.

Portal AECweb – Na sua visão, quais são as principais tendências do setor, ou seja, as vertentes estratégicas para a construção civil nos próximos anos?

Eduardo Toledo – Vejo três tendências importantes para o setor. A primeira delas eu diria que é a industrialização. Precisamos começar a construir e a fabricar cada vez mais fora do canteiro, e levar isso para o canteiro. Ou seja, investir na construção modular.

A segunda eu diria que é a digitalização. A aplicação da tecnologia da informação em todas as etapas do empreendimento. Claro que o BIM é a grande estrela quando a gente fala disso.

E, finalmente, eu diria a sustentabilidade. Levar a sustentabilidade em consideração na fase de projeto. Fazer projetos que sejam mais sustentáveis durante a operação e, depois, na execução e no canteiro adotar práticas mais sustentáveis e tecnologias que favoreçam esse tema.

AECweb – Você tem sido um dos principais estudiosos e apoiadores do desenvolvimento do BIM no Brasil. Em que estágio de evolução nos encontramos nesse momento?

Toledo – Lá no BIM Fórum fizemos uma pesquisa em 2022, que certamente foi a mais precisa e mais confiável porque envolveu mais de 10.000 respondentes entre engenheiros e arquitetos. Identificamos que a taxa de adoção no Brasil é mais ou menos de 22%. O que é bastante razoável. Isso vem crescendo bastante, a gente vê cada vez mais essa adoção, melhorando o grau de qualidade das implantações, fazendo mais uso de BIM. Então estamos evoluindo bem eu acho.

A lei de licitações, 14.133, vai entrar em vigor pleno em abril de 2024, obrigando todas as obras públicas nos âmbitos federal, estadual e municipal a adotarem BIM. E isso acho que vai realmente dar um outro impulso para o assunto. Vejo com muitos bons olhos a evolução da adoção do BIM aqui no Brasil.

AECweb – Qual é a sua visão sobre o processo de digitalização no setor e os aplicativos que surgem todos os dias no mercado para auxiliar na gestão de obras?

Toledo – É sempre muito positivo. A gente sempre reclama da produtividade na construção comparada a outros setores. E o que realmente é diferente em outros setores é a adoção maciça da tecnologia da informação. Isso a gente tem que adotar mais na construção.

O que precisamos neste momento é a maior adoção. Existem muitas ferramentas bastante sofisticadas. Mas a gente vê que nem as ferramentas mais consolidadas, que são mais simples, não têm uma grande adoção no nosso setor. Então, mais importante do que ir atrás de grandes novidades, é consolidar o uso de tecnologias que a gente já tem há bastante tempo.

AECweb – Toledo, o uso de drones e processamento de imagens para auxiliar na gestão de obras e acompanhamento de execução é algo que veio para ficar?

Toledo – É uma tecnologia que fica cada vez mais acessível. Por que não usar, né?

Tem um nicho de aplicação disso. Obras maiores, com mais difícil acesso, que precisam de imagens aéreas para levantar condições existentes. É uma tecnologia que está à nossa disposição, mais um recurso.

AECweb – É possível pensar em aumento da produtividade no setor sem levar em conta a necessidade de formação continuada e treinamento dos profissionais em diferentes níveis e áreas de atuação? Como o senhor enxerga esse assunto?

Toledo – Não acho possível. Quando falamos de BIM, por exemplo, sempre falamos que é um processo. E a gente não pode fazer as coisas da maneira que sempre fizemos e querer implantar um novo processo. Um novo processo necessariamente implica em mudanças. E essas mudanças precisam de um treinamento. A gente já tem a resistência natural do ser humano a grandes mudanças. Então para facilitar isso acho que realmente precisamos dar o treinamento e a formação adequada.

E nós estamos falando de formas muito diferentes de fazer as coisas tanto na área de projetos, como usar as tecnologias que mencionamos no canteiro. E se os profissionais não forem adequadamente treinados, instruídos e formados fica muito mais difícil. Eu diria que fica quase impossível. Então treinamento é fundamental.

AECweb – Você acaba de aceitar um convite do Portal AECweb para fazer parte do Conselho Editorial da AEC Academy, iniciativa na área da educação voltada para profissionais e empresas de toda a cadeia produtiva da construção civil. Qual é a sua expectativa a respeito?

Toledo – A minha expectativa é poder contribuir, principalmente, com minha maior especialidade dentro do setor da construção: as tecnologias digitais. Elas são fundamentais, como falamos, uma das tendências, e meu intuito é poder contribuir para que essa temática esteja incluída e bem representada na AEC Academy.