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O que é controle tecnológico do concreto?

Resumir todo o processo apenas ao ensaio de determinação da resistência aos 28 dias é um equívoco comum, que não garante qualidade. Acompanhamento deve ser amplo e incluir todas as etapas e aspectos técnicos relevantes

Publicado em: 06/04/2023

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
A NBR 12655 “Concreto de Cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação – Procedimento” define responsabilidades, parâmetros para estudos da dosagem e da resistência do concreto, condições de preparo, ensaios de controle e procedimentos para aceitação e rejeição dos lotes (Imagem: Shutterstock)

O concreto demanda diversos cuidados durante as diferentes etapas de sua especificação, produção e aplicação: definição do traço, o preparo na usina, o recebimento na obra e a verificação das resistências após o lançamento.

O objetivo é garantir o desempenho e evitar patologias que possam comprometer a vida útil da estrutura. Para isso, independentemente do controle de produção realizado pela empresa de serviços de concretagem, a construtora é responsável pelos ensaios do material.

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Há fatores que interferem na qualidade do concreto desde a saída da central, tais como atrasos na entrega e mudanças do clima. Mas quais são os ensaios previstos nas normas técnicas que permitem comparar o que foi entregue com o que, de fato, havia sido solicitado em projeto?

Para nos ajudar a compreender melhor o assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil e professor Alvaro Sergio Barbosa Junior, coordenador de programas e projetos da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (ABESC). Leia a entrevista a seguir.

“A NBR 12655 oferece todos os parâmetros de preparo, controle, recebimento, desvios padrões etc. E há também a NBR 7212, que estabelece os requisitos para a produção de concreto dosado em central para o controle interno das empresas de serviços de concretagem”
 Eng. Alvaro Sergio Barbosa Junior

AECweb – O que é controle tecnológico do concreto e quais são as principais etapas necessárias para o monitoramento?

Alvaro Sergio Barbosa Junior – O primeiro conceito que devemos entender é que existem normas técnicas que contemplam todos os requisitos do controle tecnológico. Há uma série de critérios, desde a especificação, passando pela produção, recebimento na obra e o processo como um todo. A NBR 12655 oferece todos os parâmetros de preparo, controle, recebimento, desvios padrões etc. E há também a NBR 7212, que estabelece os requisitos para a produção de concreto dosado em central (armazenamento dos materiais, dosagem, mistura, transporte, recebimento, controle de qualidade e inspeção) para o controle interno das empresas de serviços de concretagem. Entendemos, portanto, que existem normas que regem o nosso processo da qualidade e são elas que nos garantem. E, além das normas, você vai precisar contar com a competência das equipes técnicas e dos profissionais envolvidos, que devem conhecer os ensaios e os textos normativos.

“A NBR 12655 oferece todos os parâmetros de preparo, controle, recebimento, desvios padrões etc. E“A equipe da central prepara e trabalha o traço de forma adequada para a necessidade do projeto. Você deve receber, portanto, tudo aquilo que já foi previamente estudado. A ideia é não fugir disso para que seu desvio padrão seja controlado”
 Eng. Alvaro Sergio Barbosa Junior

AECweb – Quais são os principais ensaios realizados no concreto fresco?

Barbosa Junior – Dentro do processo, quando você está dentro da obra, deve haver o controle de recebimento. Na hora que o concreto está chegando, há o ensaio de abatimento, o slump test, para fazer um primeiro controle de verificação de água. Em alguns casos de concretos especiais, em fundações, há necessidade de controle de temperatura. Você também pode fazer o ensaio de ar incorporado. O objetivo geral é verificar se o traço está adequado com aquilo que consta na especificação. Ou seja, é controle de recebimento mesmo: saber se o traço está dentro daquilo que foi determinado e previsto anteriormente nos estudos de dosagem. A equipe da central prepara e trabalha o traço de forma adequada para a necessidade do projeto. Você deve receber, portanto, tudo aquilo que já foi previamente estudado. A ideia é não fugir disso para que seu desvio padrão seja controlado.

“Hoje, pela velocidade das nossas obras, 28 dias é muito tempo. Temos que garantir o processo como um todo muito antes de conhecer tais resultados”
 Eng. Alvaro Sergio Barbosa Junior

AECweb – Como são realizados os ensaios para a determinação da resistência à compressão aos 28 dias?

Barbosa Junior – Na verdade, o processo de 28 dias é a materialização do crescimento das resistências internas dentro do próprio concreto. Só que você precisa de uma preparação e de competência técnica, porque você molda um corpo-de-prova, ou seja, você prepara aquilo que será objeto de avaliação. Lembrando que você pode ter um controle que é feito por um laboratório externo, de responsabilidade da construtora, e o laboratório da própria concreteira, que pode fazer o acompanhamento em conjunto. O corpo de prova tem que ser preparado, moldado e transportado de uma forma adequada, para que seja rompido e, na ruptura, seja feito um controle do crescimento das resistências. Esse controle depende muito da especificação de projeto, por exemplo, em relação à desforma. Em obras de parede de concreto, você tem liberações para desforma com 12 horas. Mas você pode ter peças com 3 dias. Você vai ter, portanto, idades intermediárias. Para um controle tecnológico efetivo, é importante também trabalhar com laboratórios acreditados, que atendam às determinações da NBR ISO 17025. Da mesma forma com as concreteiras, que já possuem um programa de certificação setorial junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Assim, dessa forma, você vai incorporando qualidade dentro do processo. Aí, quando você chega aos 28 dias, já cumpriu todas as etapas e os ensaios estarão adequados. Ou seja, você vai ter apenas a confirmação de como está o seu concreto. Hoje, pela velocidade das nossas obras, 28 dias é muito tempo. Temos que garantir o processo como um todo muito antes de conhecer tais resultados. São as garantias finais de projeto mas, se eu não estiver fazendo um acompanhamento de qualidade, não teremos bons resultados aos 28 dias. A ruptura de corpo de prova é apenas uma das garantias de qualidade. Outros ensaios como, por exemplo, de módulo de elasticidade, vão ajudar a garantir o processo de deformação incorporada no projeto da estrutura. Muitas vezes, as falhas são causadas pela falta de entendimento das especificações que estão no projeto.

As pessoas também perguntam:
O que é a cura do concreto e qual é o risco de dispensá-la?

AECweb – Costuma-se dizer no meio técnico que simplesmente romper corpos de prova não garante qualidade. Apenas documenta o erro. O senhor concorda, então, com tal afirmação?

Barbosa Junior – Se eu estiver comprando apenas resistência, eu não estou analisando todo o processo. Porque, às vezes, posso estar com um concreto de determinada resistência, mas sem atender às exigências de norma relativas à durabilidade. E tudo isso consta da especificação de projeto. A ruptura de corpo de prova é somente uma das etapas. No processo para a produção do concreto, a empresa de serviços de concretagem faz ensaios do agregado, da brita, areia, cimento – cada um dos materiais constituintes possui características específicas. É uma análise global. Temos que estar preparados nesse sentido. Estudar o melhor processo, o melhor aditivo dentro dessa mistura, fazer um bom acompanhamento e, da mesma forma, um recebimento adequado na obra. É isso é que vai garantir a qualidade do concreto.

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Colaboração técnica

Alvaro Sergio Barbosa Junior – Engenheiro civil com mestrado profissional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é coordenador de programas e projetos da ABESC (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem). Coordenador e professor de cursos de engenharia civil, atuou em diversas empresas na área de controle tecnológico na construção.