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Como melhorar a logística de entrega e recebimento de materiais nas obras?

Projeto de canteiro com diferentes versões ao longo do cronograma, programação e agenda de entregas, comunicação ativa com todos os envolvidos e engenharia integrada facilitam o processo para as construtoras

Publicado em: 15/07/2024

Texto: Eric Cozza

Ilustração de um canteiro de obras.Planejamento logístico deve ser iniciado antes da etapa de execução e envolver a equipe de obra, a área de suprimentos, os fornecedores, transportadoras, aplicadores, prestadores de serviços e todos os agentes envolvidos. Clareza e comunicação são fundamentais para prever todos os detalhes e garantir uma boa produtividade no canteiro (Imagem: CityLogistics)


O desafio da logística na construção civil, especialmente na área de edificações, é imenso. São centenas ou, por vezes, milhares de itens a serem especificados, comprados e entregues nos canteiros de obras que, por natureza, são instalações provisórias e sujeitas a várias intercorrências, determinações e exigências legais.

Apesar de tal importância, historicamente, a palavra logística não costumava aparecer entre as mais utilizadas na construção civil brasileira. Basta dar uma olhada no currículo das escolas de engenharia civil e arquitetura. Ou na quantidade e diversidade de livros técnicos editados no país sobre o assunto.

Com a industrialização assumindo um papel cada vez mais importante, em um cenário de escassez de mão de obra, improvisar deixa de ser uma opção. É preciso pensar e planejar, com seriedade.

Mas, afinal, como melhorar a logística de entrega e recebimento de materiais nas obras? Para aprofundar sobre o assunto, nós convidamos para o Podcast AEC Responde o arquiteto Carlos Chaves, diretor da Log Gestão de Obras e especialista em processos construtivos, planejamento, logística e controle de produção em obras.

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – Como melhorar a logística de entrega e recebimento de materiais nas obras?

Carlos Chaves – A logística de obras é algo complexo, que possui muitas variáveis. É fundamental que exista um planejamento dessas entregas, envolvendo todos os players. Isso começa pela equipe de obra e passa pela área de suprimentos da construtora e todos os agentes envolvidos. É preciso definir uma agenda de entrega: qual é a data e, se possível, o horário ideal para a chegada de cada material? É fundamental conversar com os fornecedores. Qual é o tipo de embalagem do material? Paletizado? Em caixas? Qual é o formato de entrega? Vou dar um exemplo: uma obra, em geral, utiliza portas de 60, 70 e 80 cm de largura. Se o fabricante envia a carga fechada com todas as portas de 80 cm, pode ser que isso não atenda à necessidade logística do canteiro. Muitas vezes, a obra precisa, para cada pavimento, das três medidas de porta. Então, é importante entender, conversar, combinar, planejar e deixar registrado. Quando você sensibiliza o fornecedor, ou seja, procura entender o problema dele, fica mais fácil que ele compreenda também a necessidade da obra e faça uma carga mais otimizada e direcionada à produção. A equipe de logística deve ser responsável por entender todo o processo e receber o caminhão, já deixando destinado qual equipamento vai descarregar e se é o mesmo que vai levar o material ao local de estoque. Tais premissas devem estar combinadas e registradas. Não há necessidade de fazer uma tese. Basta chamar a atenção para os pontos importantes, como a forma de chegada de cada material, o que foi combinado com o fornecedor e incluir os nomes das pessoas responsáveis. Pode até ser uma folha de papel, mas deve explicar, para cada material, qual é o planejamento e como ele vai ser recebido na obra.

AECweb – O projeto do canteiro de obras é importante nesse processo de definição logística?

Chaves – É fundamental. Podemos separar o canteiro de obras em duas áreas: de vivência e administrativa e a outra de estoque e movimentação dos materiais. Na primeira, ficam a engenharia, o mestre de obras, o encarregado, refeitório, sanitários, vestiários etc. São locais que, em geral, não tem impacto direto na logística, mas podem atrapalhar ou serem atrapalhados nesse processo. Imagine, por exemplo, uma sala de reunião na obra em frente a um local de movimentação de cargas. Pode não funcionar. Isso deve ser levado em conta. Pensando especificamente nas áreas de estoque, é fundamental ter não apenas um, mas vários projetos. Isso porque a obra é dinâmica. Estabelecemos hoje um local para aquele material e, na sequência do cronograma, talvez não possa ficar mais ali, porque temos que seguir com a construção. O importante, no planejamento, é saber quais materiais vão ser estocados e em quais locais. Sempre tomando muito cuidado para que não haja removimentação. São vários projetos de canteiro e estoque ao longo da obra. De julho a setembro, é assim. De outubro em diante, é de outra maneira. Você prevê vários momentos, especificando essas áreas de estoque e movimentação de materiais.

AECweb – Qual é a importância da comunicação adequada com fornecedores, subempreiteiros, locadoras, transportadoras e prestadores de serviços para melhorar a logística da obra?

Chaves – Na hora que algo dá errado – e, infelizmente, isso acontece – costuma-se sempre apontar o dedo. Coisas do tipo: “ah, a culpa é da transportadora” ou “não, é do fornecedor” ou “foi a obra”. Isso ocorre por falta de diálogo. Muitas vezes, a obra deixa de mostrar e explicar a sua necessidade. Não custa nada chamar o fornecedor e o transportador para tomar um café e explicar as condições da rua... se passa, ou não, fiação no trajeto, todo esse tipo de coisa. É importante ter essa comunicação. Fundamental para evitar qualquer tipo de ruído. Cada vez mais, as obras, naturalmente, trabalham com menor prazo possível. E qualquer coisa que atrapalhe a produção é muito ruim para o empreendimento. Vale a pena gastar uma tarde discutindo a entrega das portas, com o fornecedor e a transportadora? Claro! A construtora é que sai ganhando, para todo o restante da obra, recebendo as portas no momento certo e nas condições adequadas. E você abre um canal de de comunicação que pode ajudá-lo no futuro. Exemplo: combinei de receber as portas na segunda-feira, mas tive um imprevisto e não vai dar. Já falo direto com o pessoal da transportadora, explico o problema e, quem sabe, conseguimos reprogramar. Como tudo na vida, sem comunicação, o risco de algo dar errado é muito grande.

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AECweb – A logística em uma obra industrializada é mais importante do que em uma construção convencional, mais artesanal?

Chaves – Tão importante quanto, mas com algumas especificidades. Possui características que não podemos deixar de estudar, de entender e nos programarmos. Geralmente, são peças grandes, que já foram produzidas em uma fábrica. É necessário, então, avaliar muito bem o acesso e o equipamento que fará a movimentação. Muitas vezes, olhamos para a obra, mas esquecemos de verificar os acessos. Às vezes, tem uma curva na chegada da obra que uma carreta, carregada com uma peça grande, simplesmente não consegue fazer. Tudo isso tem que ser muito bem pensado, planejado direitinho. Veja o caso do banheiro pronto: é uma excelente solução, desde que seja pensada desde o projeto. Geralmente, são carregados três, quatro, até seis banheiros em uma carreta. É preciso se comunicar com o fornecedor, entender muito bem a carga e como será a transportada até a obra. Depois, deve-se testar o equipamento que vai descarregar o banheiro. É o manipulador telescópico? A grua? Esse equipamento vai colocar o banheiro diretamente no andar? Quais serão os pesos, as cargas envolvidas? O ideal é que seja um processo just-in-time, mas, e se não for possível? É importante ter uma área pequena, uma reserva para deixar o banheiro por um curto período, no caso de ser impossível colocar no pavimento naquele momento. A industrialização é um caminho sem volta. Por isso, é preciso pensar na logística e nos detalhes específicos de cada sistema. No caso do banheiro pronto, há uma outra grande vantagem: otimiza o projeto de canteiro, pois não serão mais necessárias grandes áreas de estoque de revestimentos cerâmicos, de argamassa colante e outros produtos relacionados. É por isso que devemos pensar em tudo de maneira completa e integrada, contemplando todos os sistemas.

AEC Responde

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Colaboração técnica

Carlos Chaves – Arquiteto e diretor da Log Gestão de Obras com mais de 35 anos de experiência em construção civil. Atua como consultor em processos construtivos, planejamento, logística e controle de produção em obras.