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O que é um kit porta pronta?

Desenvolvido para facilitar e agilizar a instalação, reúne componentes prontos de fábrica para a fixação mecânica ou com espuma expansiva em vãos predeterminados. É mais uma solução industrializada para as construtoras

Publicado em: 18/07/2024

Texto: Eric Cozza

Homem com ferramenta nas mãos fazendo a instalação do kit porta prontaKit possui alguns componentes básicos: marco e folha da porta, dobradiças, ferragens e jogo de alizar. Sistema chegou ao mercado nacional na década de 1990 e foi incorporado por muitas empresas em seus processos. Necessidade de reduzir a mão de obra no canteiro estimula o uso desse tipo de tecnologia em tempos de escassez de operários e instaladores na construção (Imagem: Cozza Comunicação)


A industrialização entrou, de vez, na pauta das construtoras com a atual escassez de operários e profissionais de campo no Brasil. Nesse contexto, todas as soluções capazes de reduzir a necessidade de mão de obra nos canteiros têm sido mais observadas e analisadas. É o caso do kit porta pronta.

Não se trata de nenhuma novidade. O sistema chegou ao mercado nacional na década de 1990 e foi incorporado aos procedimentos de construção de muitas empresas. Mas ainda há quem não conheça as vantagens e o potencial da tecnologia.

Para nos explicar do que se trata e apontar os cuidados necessários para a especificação e instalação, convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil, professor doutor e pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), Claudio Mitidieri.

Ouça o áudio e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – O que é o sistema porta pronta, quais são os componentes do kit e os principais passos de montagem?

Claudio Mitidieri – A porta possui, atualmente, uma normalização bastante abrangente: a NBR 15.930. A norma está dividida em quatro partes: a primeira trata de terminologia; a segunda inclui requisitos; a terceira abrange requisitos especiais ou complementares; e uma quarta parte trata de instalação e manutenção. Traz recomendações importantes. Por isso, sempre aconselhamos os engenheiros e arquitetos a lerem a norma, para que façam uma especificação e uma aquisição adequada do produto. O kit possui alguns componentes básicos: marco e folha da porta, dobradiças, ferragens e jogo de alizar. É fornecida montada, já pronta de fábrica. Mesmo quando há alguns componentes diferenciados, tais como gaxetas de vedação, cordões ou fitas intumescentes, no caso de portas resistentes ao fogo, tudo isso já vem pronto de fábrica, inclusive os acabamentos. É colocada como um único item.

AECweb – Há um vão pré-determinado e, para a fixação, é utilizada espuma de poliuretano?

Mitidieri – O mais usual, hoje em dia, é o sistema de espuma expansiva. Na parte 4 da norma, que trata de instalação, são previstas duas situações: fixação mecânica e com espuma. E traz as recomendações mínimas de número e comprimento de trechos de espuma a serem utilizados. Precisamos tomar um cuidado especial em relação às portas de entrada. A norma classifica hoje a porta interna de madeira, a PIM; a porta de entrada de madeira, a PEM; e a PXM, a porta externa. A PIM e a PEM também podem ser classificadas como RU, ou seja, resistentes à umidade, para uso em áreas molháveis e molhadas. A PXM, obrigatoriamente, tem que ser resistente à umidade. No caso da porta PEM, principalmente por conta de requisitos de acústica e isolação sonora entre uma unidade autônoma e outra, é importante que esse cordão de espuma seja contínuo, ou seja, dê a volta em todo o contorno do marco. Funciona como fixação e vedação. É preciso tomar sempre cuidado com a especificação dessa espuma. Em algumas situações, é obrigatório o uso de fixação mecânica. Recomendo a leitura da parte 4 da norma, que trata desses casos.

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Miniguia de porta de madeira

AECweb – Quais devem ser os principais cuidados na especificação e execução do sistema de porta pronta para evitar futuras patologias?

Mitidieri – É muito importante, desde o projeto, especificar de acordo com o uso do produto, como nessas categorias que mencionei. Mas há outros requisitos especiais, como a porta isolante acústica, a porta resistente ao fogo e a antirradiações. É sempre importante também considerar a porta em relação ao aspecto da acessibilidade, para vários tipos de uso: residencial, comercial, hospitalar etc. Além desses requisitos técnicos do produto, o vão deve estar bastante regular. Hoje, temos uma situação na qual se cobra muita industrialização. Ocorre que, para que o produto seja efetivamente industrializado, é necessária a produção em série, com dimensões pré-determinadas. Portanto, é importante que, na obra, as dimensões dos vãos sejam bastante controladas. Não só a largura e a altura. Os próprios desvios do vão devem ser bem verificados. Se você vai instalar o produto e é obrigado a corrigir dimensões, acaba perdendo o ganho de produtividade que teria com um processo industrializado. É necessário pré-definir o vão e adquirir um produto que já seja fabricado para aquela dimensão específica, sem a necessidade de acerto. Mesmo porque não dá para realizar qualquer tipo de ajuste na porta pronta sem danificar o produto. Muito cuidado também com o armazenamento no canteiro. A porta pronta tem uma forma correta para ser armazenada.

AECweb – As portas e esquadrias foram itens que geraram muitas discussões no âmbito da Norma de Desempenho, a NBR 15575, principalmente no que se refere ao isolamento térmico e acústico. A forma de instalação pode ter alguma interferência no desempenho das portas para o usuário final?

Mitidieri – A acústica, de fato, foi muito discutida na Norma de Desempenho. Mas devemos lembrar que não há, na NBR 15575, requisitos específicos para a porta. Do ponto de vista acústico, a grande preocupação é com a porta de entrada da unidade autônoma. Há um critério de desempenho na 15575 relativo à isolação sonora entre duas unidades autônomas. E isso passa, obrigatoriamente, pela porta de entrada. Na parte 3 da NBR 15930, há uma classificação daquilo que se convencionou chamar de portas com isolamento sonoro ou porta isolante acústica, batizada de PIA. Começa com a classe 1, que é de 21 até 24 dB, e vai até a classe 6, acima de 41 dB, de isolação sonora. São valores de Rw (índice de redução sonora) medidos em laboratório. Para cada tipo de uso, é especificada uma determinada isolação sonora da porta. No caso, por exemplo, de hotéis, costuma ser utilizada uma classe superior, como a 4, de 33 a 36 dB. O importante é que o projetista especifique o valor do Rw e não apenas a classe, que pode variar um pouco. É importante que se determine o Rw mínimo. Outra recomendação fundamental na instalação, no caso da porta isolante acústica, é vedar o vão todo entre o marco e a parede.

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Colaboração técnica

Claudio Mitidieri – Doutor em engenharia civil pela Universidade de São Paulo, é pesquisador sênior do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Especialista em sistemas construtivos e desempenho de edificações habitacionais, é docente e coordenador da área de tecnologia do Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia, do IPT.